segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A dialética do querer e dever

" Poucas pessoas conseguem tudo o que querem, mas no final das contas, elas não são as verdadeiras sortudas. Os verdadeiros sortudos são aqueles que fazem o que estão destinados a fazer".

Isso foi dito em um filme que me emocionei assistindo hoje... Nisso criou-se em mim uma reflexão que dá título a este post: o "querer" oposto ao "dever".

Gostaria de falar desse conflito considerando a juventude, grupo no qual
me sinto inclusa. Essa época é extremamente emocionante! E apesar de ser complicado e até parecer injusto, uma constatação é óbvia e real: muitas das grandes decisões de nossas vidas começam a ser tomadas quando somos jovens.

O que é que eu vou fazer quando acabar a escola? Para que faculdade eu vou? Que curso fazer? Será que devo só fazer um curso técnico? Será que eu deveria fazer um intercâmbio? Será que ficar longe da minha família por um tempo seria bom? Mas se eu ficar longe como fazer com aquele(a) garoto(a) que eu amo? Quando devo começar a trabalhar? Que profissão seguir? Como e onde começar?

Quem não se fez ao menos uma dessas perguntas? E eu gosto das perguntas! Acredito que elas são uma demonstração de que estamos dispostos a refletir e crescer... mas a pergunta precisa gerar movimento, senão se torna vazia... Então vamos lá!

Atualmente os jovens têm acesso a informação facilmente, rapidamente, abundantemente... Isso deveria ajudar a responder as perguntas interiores destacadas acima, que não são novidade para ninguém! A informação deveria ajudar a gerar um movimento e filtrar nossas intenções em relação ao querer e dever, mas vemos que não é isso que vem acontecendo. Essas perguntas, apesar de fazerem muito parte do 'lugar-comum', não estão, muitas vezes, sendo encaradas com a seriedade que mereciam. A busca do responder, de acordo com o mais correto, está perdendo espaço para a resposta imediata e de suposto benefício próprio.

Aí finalmente entramos no querer. O que queremos hoje? Queremos o que vemos, queremos o que é belo, o que é poderoso, admirável, intenso, o que nos faz sentir 'parte' de algo virtualmente importante.

♫ I wanna be a billionaire so fucking bad.
Eu quero muito ser um bilionário
Buy all of the things I never had.
Comprar todas as coisas que eu nunca tive
I wanna be on the cover of Forbes magazine.
Eu quero estar na capa da revista Forbes
Smiling next to Oprah and the Queen.
Sorrindo ao lado de Oprah e da Rainha

Everytime I close my eyes.
Toda vez que eu fecho meus olhos
I see my name in shining lights.
Eu vejo meu nome em luzes brilhantes
A different city every night
Uma cidade diferente a cada noite
I swear the world better prepare
Eu juro que é melhor o mundo se preparar
For when i'm a billionaire.
Para quando eu for um bilionário ♪
(Billionaire – Bilionário / Travis McCoy e Bruno Mars / tradução livre)

Essa música, deixa explícito o que parte das pessoas está querendo... Mas não se trata somente de fama, dinheiro e poder, é mais que isso! Eu juro que é melhor o mundo se preparar para quando eu for um bilionário... Mudando um pouco: Eu juro que é melhor o mundo se preparar para quando em conseguir tudo o que eu quero... E é isso! O que iríamos fazer se alcançássemos o que queremos? Será que o nosso querer está realmente relacionado com o que é verdadeiro e ideal para nós, relacionado ao que é bom?

Entramos, agora, no dever. Cada dia que passa as pessoas, principalmente as mais jovens, se incomodam absurdamente com esse conceito! "Não quero nada nem niguém me dizendo o que devo fazer"...

♫ Hey dad look at me
Hey pai, olhe para mim
Think back and talk to me

Pense e fale comigo
Did I grow up according to the plan ?

Eu cresci de acordo com seu plano?
And do you think I'm wasting my time doing things I wanna do? ♪

E você acha que estou perdendo tempo fazendo as coisas que quero fazer?
(Perfect - Perfeito / Simple Plan / tradução livre)

Não queremos ouvir nem de nossos pais, nem dos outros o que devemos ou não fazer... Ainda mais difícil é estarmos dispostos a ouvir, analisar os fatos, nos questionarmos a respeito de nossas decisões e atitudes e descobrirmos se realmente estamos fazendo o que deveríamos.

Eu não me atrevo a dizer o que as pessoas deveriam fazer, mesmo porque eu não sei [rs] e isso é bem individual e profundo! Mas uso essa frase citada no início desse texto para tentar concluir toda essa história. Não concordo com algumas das palavras utilizadas nela, então vou ajustar de acordo com os conceitos que considero reais. (Volta lá em cima e leia a frase de novo, se quiser e achar que deve ;] )

Para 'sortudo' prefiro usar as palavras: realizado, pleno, inteiro ... e vemos que não são muitos que estão atingindo este estágio... creio que isso provém de uma grande tendência social à imitação, conveniência e facilidade. O 'destino' mudo para as palavras vocação ou missão. E só conseguimos cumprir nossa missão ou viver nossa vocação quando passamos pelo processo do autoconhecimento: sem máscaras, sem medo.

Sonho com o dia em que nós vamos nos preocupar mais em ser do que em mostrar. Que vamos buscar descobrir e viver o que devemos, e não só o que queremos, o que vem do impulso, das vontades, das pressões, dos exemplos distorcidos que nos são apresentados.


Enfim, muitos dizem que a religião aliena e faz as pessoas serem manipuladas e ignorantes, mas eu digo que a Igreja Católica a que pertenço e através da qual conheci Deus, me ensinou que eu posso TUDO, mas o que realmente devo é buscar o que me torne plenamente feliz. A felicidade que não passa depois de uma noite de balada. Não passa depois que eu já curti aquilo que eu comprei. Não passa depois de ter aquele momento intenso com o cara ou a moça por quem se é apaixonado.

É uma satisfação que dura por se tratar do desenvolvimento de quem você é, de ter uma missão e buscar cumpri-la, e não importa se você descobre que sua vocação é de realizar pequenas ou grandes coisas. Como diz um amigo meu, hoje o mundo está tão escuro que todos correm atrás de quem acende um fósforo. E quem faz o que deve fazer, que consegue controlar e dominar seu querer e estar no lugar certo, fazendo a coisa certa... cativa!

O grande lance é estar em Comunhão consigo mesmo e com Deus , conhecer seu potencial e saber o que fazer com ele. O individualismo imposto pela sociedade atual nos faz pensar que o que sabemos ou temos de especial deve ser utilizado exclusivamente para o nosso bem estar, enquanto que se o usássemos para o bem comum, os frutos seriam muito mais significativos.

Fica aqui o convite! A começar por mim, vamos embarcar nessa jornada rumo ao descobrimento de nós mesmos. Aceitar o processo de escolher o que é mais correto, o que devemos fazer, deixando de lado aquilo que corresponde a um querer vazio e egoísta, fruto de paixões. Que Deus nos ajude a sermos pessoas melhores e, assim alcançarmos o que nos é devido e que nos levará à Eternidade.

Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser. (Monteiro Lobato)

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