domingo, 10 de outubro de 2021

O olhar, o amor


Tu sabes que busquei sabedoria 

Que ouvi a Palavra e quis ser coerente

Que de Teus mandamentos fiz minha via

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Eu quis aprender de Ti, até te chamei de bom

Desde minha juventude quis viver de maneira consciente

De repente me mostras que falta-me a lógica do dom

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Sabes que os meus procurei honrar

Do mal me afastei, lutei, fui persistente

Por que, então, Sua proposta traz-me tanto pesar?

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Tua promessa é "cem vezes mais, com perseguições"

Dizeis: "Tudo o que tens, vai e vende"

Apesar de Tua clareza ainda pareço precisar de explicações

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Queres me dar o céu, Teu Reino como herança

E para tanto preciso me abaixar, reconhecer-me impotente

É incômodo este caminho, vacila em mim e esperança

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


A diferença é que Tu vês aquilo que eu ainda não sou

E arrastas o meu hoje, amando-me apaixonadamente

Tua voz não muda, mesmo se longe de encarná-la estou

Então quero imitar o Teu olhar, o Teu amor, que fazem tudo diferente.


segunda-feira, 29 de março de 2021

Os amigos em Betânia

Aquela Oferta


Ele estava ali, perto, ao alcance,

Até quando ninguém parecia saber

Mas o Pai sussurrara ao seu coração

Que estava próxima a hora de O perder

.

Como uma dor que revelava

O desejo por Ele desde a criação impresso

Mesmo sem ao certo saber como

Pensou numa maneira de não perder Dele o acesso

.

Ofegante, confusa, inquieta

Com uma ferida estranha que parecia não cicatrizar

Suspirou por Seu Senhor

Desejou prendê-Lo a si, desejou com Ele ficar

.

Queria marcá-Lo como Ele a marcou

Demonstrar aquilo que Dele aprendera: o amor

Falar em uma linguagem mais eloquente que das palavras

Deixar que o que sentia enchesse tudo, como um suave odor

.

Decidiu dar o que tinha de mais precioso

Seu Nardo caro e puro iria derramar

Não importava se aos outros convinha ou parecia certo

Ele merecia tudo, e a ela só importava a Ele agradar

.

Ao vê-Lo teve certeza que não poderia mais nada reter

Correu, e jogou-se diante Dele, na ânsia de amar

Derramou seu perfume e enxugou os pés do Senhor com seus cabelos

Ali mais nada tinha, livremente deu tudo e deixou o perfume da oferta exalar

.

Seu perfume se espalhou e todos viram e sentiram

Que algo grande, inusitado, pessoal, acabara de acontecer

Mas a estranheza do gesto tão efusivo

Como previsto atraiu olhares que insistiam em a repreender

.

Mas não importava o julgamento de todos

Porque Seu Senhor sentiu o perfume e pôde seu coração sondar

Aos homens toda a cena poderia demonstrar exagero

Ele, porém, compreendia, e sempre se deleitava, com decisões que fazem amor transbordar

.

Perplexidade de alguns, acolhimento de outros

O perfume se espalhou e ninguém mais poderia evitar sentir

Ela estava caída, esvaziada e amante

E Ele tocado, com sobrenatural consciência, de que por ela, e por todos, deveria se consumir

.

O amor dela, imperfeito se derramou

Ele viu, acolheu e a fitou com perfeição

Ele desejou que o perfume alcançasse todos

Ela desejou jamais esquecer que deve ter gratidão

.

Naquele momento que precedia momentos de grande mistério

Todos, de certo modo, queriam para Ele se expressar

E Ele, generoso e compreensivo

Aceita todo o oferecido e utiliza tudo para os seus agregar

.

No coração dela no instante eterno aos pés do Mestre

Passou pela duvida, medo, entrega e permaneceu prostração

Pensou que Marta, madura, oferecia serviço; Lázaro, íntimo, oferecia fraternidade

E ela, Maria, fraca e pequena, oferecia sua reverência e adoração.


------


A cena de Jesus com seus amigos em Betânia, pouco antes de entrar em Jerusalém e consumar tudo, desperta em mim uma ternura por esse lado humano do Senhor. Ele quis estar com seus amigos, ali Ele se preparava para assumir a Vontade do Pai. Para mim, cada um de seus três amigos representam um aspecto dessa relação essencial na vida de todo ser humano.


Essa poesia foi fruto de uma experiência de oração em 2018, mas sempre volto a ela, desejando também, ser amiga de Jesus. Se você está aqui lendo isso, rogo a Deus que essas palavras te ajudem a também ter uma experiência nessa Semana Santa.


Publicação original

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Começar 2021 em silêncio e de joelhos


A maioria das pessoas planeja como vai começar o ano, e, de certa forma, a maneira que escolhemos iniciar este novo período, reflete nosso desejo de como viver o novo que vem. Passar a virada de ano ao lado de quem se ama, em um lugar bonito, numa praia, numa festa, com música e luzes, em um lugar silencioso, com pouca gente, só com os mais íntimos, com música ao vivo, em casa mesmo, vendo ou ouvindo algo que gosta. Há inúmeras opções para viver esse ritual de passagem de um ano para outro. 

Mas dentre tantas alternativas, pareceria inusitado passar o momento que para tantos é cheio de barulho e alegria efusiva, de joelhos e em silêncio. Por que se ajoelhar? Por que silenciar? 

Diante da lembrança de tantos meses vividos, o silêncio ajuda a fazer memória das graças e desafios enfrentados, o silêncio ajuda a retomar os propósitos feitos nos dias passados, ajuda a enxergar que em tudo que passou, há motivos para louvar. No silêncio encontramos as razões para ter gratidão por um ciclo concluído, afinal de contas, tudo passou, e no silêncio, renovar a certeza de que, de fato, tudo passa. 

No entanto, há algo que não passa. E diante da verdade imutável, daquele que é o vencedor e quer nos ensinar a triunfar sobre tudo o que passa, vale a pena se ajoelhar. Por isso, ajoelhar-se nos ajuda a baixar nossa altivez e equilibrar nosso ego, ajuda a acalmar a correria e agitação na qual estamos imersos tantas vezes, ajuda a parar e contemplar. De joelhos, olhamos para o centro de tudo, para aquele que tudo pode realizar em nossa vida, e a Ele, a Jesus, confiamos todas as expectativas e planos do novo ano. 

Em silêncio e de joelhos começamos nosso ano, reconhecendo a bondade de Deus que nos ajudou a passar por todas as situações do ano de 2020. Diante dele, renovamos nossa fé, nossa esperança e somos inflamados por seu amor que nos constrói e abre à nossa frente um horizonte belo e pleno de perspectivas de progresso e crescimento. Desta maneira, damos ao Deus que está a nossa frente, o senhorio, o poder sobre nossa vida.

Em silêncio e de joelhos percebemos nesse movimento, aparentemente imóvel, que tantas vezes procuramos mudar o que estava ao nosso redor e não tivemos sucesso; percebemos que o esforço maior deve ser em mudar o que está dentro de nós, a isso temos acesso, e isso pode transbordar com um potência real de mudança externa. 

Por isso essa foi a forma que tantos escolheram iniciar o ano de 2021, deixando que assim, as promessas de um novo amanhecer, fizessem as luzes desse novo tempo iluminar um caminho edificado na esperança. E o melhor de tudo é que, mesmo que você não tenha vivido sua virada em silêncio e de joelhos, essa postura gera um efeito transformador a qualquer momento, porque o Deus que opera as graças, está sempre nos esperando para fazer o sol da sua justiça amorosa e misericordiosa brilhar sobre nós.

Publicação originalhttps://comshalom.org/comecar-2021-em-silencio-e-de-joelhos/