domingo, 10 de outubro de 2021

O olhar, o amor


Tu sabes que busquei sabedoria 

Que ouvi a Palavra e quis ser coerente

Que de Teus mandamentos fiz minha via

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Eu quis aprender de Ti, até te chamei de bom

Desde minha juventude quis viver de maneira consciente

De repente me mostras que falta-me a lógica do dom

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Sabes que os meus procurei honrar

Do mal me afastei, lutei, fui persistente

Por que, então, Sua proposta traz-me tanto pesar?

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Tua promessa é "cem vezes mais, com perseguições"

Dizeis: "Tudo o que tens, vai e vende"

Apesar de Tua clareza ainda pareço precisar de explicações

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


Queres me dar o céu, Teu Reino como herança

E para tanto preciso me abaixar, reconhecer-me impotente

É incômodo este caminho, vacila em mim e esperança

Mas o Teu olhar, o Teu amor, faz tudo diferente.


A diferença é que Tu vês aquilo que eu ainda não sou

E arrastas o meu hoje, amando-me apaixonadamente

Tua voz não muda, mesmo se longe de encarná-la estou

Então quero imitar o Teu olhar, o Teu amor, que fazem tudo diferente.


segunda-feira, 29 de março de 2021

Os amigos em Betânia

Aquela Oferta


Ele estava ali, perto, ao alcance,

Até quando ninguém parecia saber

Mas o Pai sussurrara ao seu coração

Que estava próxima a hora de O perder

.

Como uma dor que revelava

O desejo por Ele desde a criação impresso

Mesmo sem ao certo saber como

Pensou numa maneira de não perder Dele o acesso

.

Ofegante, confusa, inquieta

Com uma ferida estranha que parecia não cicatrizar

Suspirou por Seu Senhor

Desejou prendê-Lo a si, desejou com Ele ficar

.

Queria marcá-Lo como Ele a marcou

Demonstrar aquilo que Dele aprendera: o amor

Falar em uma linguagem mais eloquente que das palavras

Deixar que o que sentia enchesse tudo, como um suave odor

.

Decidiu dar o que tinha de mais precioso

Seu Nardo caro e puro iria derramar

Não importava se aos outros convinha ou parecia certo

Ele merecia tudo, e a ela só importava a Ele agradar

.

Ao vê-Lo teve certeza que não poderia mais nada reter

Correu, e jogou-se diante Dele, na ânsia de amar

Derramou seu perfume e enxugou os pés do Senhor com seus cabelos

Ali mais nada tinha, livremente deu tudo e deixou o perfume da oferta exalar

.

Seu perfume se espalhou e todos viram e sentiram

Que algo grande, inusitado, pessoal, acabara de acontecer

Mas a estranheza do gesto tão efusivo

Como previsto atraiu olhares que insistiam em a repreender

.

Mas não importava o julgamento de todos

Porque Seu Senhor sentiu o perfume e pôde seu coração sondar

Aos homens toda a cena poderia demonstrar exagero

Ele, porém, compreendia, e sempre se deleitava, com decisões que fazem amor transbordar

.

Perplexidade de alguns, acolhimento de outros

O perfume se espalhou e ninguém mais poderia evitar sentir

Ela estava caída, esvaziada e amante

E Ele tocado, com sobrenatural consciência, de que por ela, e por todos, deveria se consumir

.

O amor dela, imperfeito se derramou

Ele viu, acolheu e a fitou com perfeição

Ele desejou que o perfume alcançasse todos

Ela desejou jamais esquecer que deve ter gratidão

.

Naquele momento que precedia momentos de grande mistério

Todos, de certo modo, queriam para Ele se expressar

E Ele, generoso e compreensivo

Aceita todo o oferecido e utiliza tudo para os seus agregar

.

No coração dela no instante eterno aos pés do Mestre

Passou pela duvida, medo, entrega e permaneceu prostração

Pensou que Marta, madura, oferecia serviço; Lázaro, íntimo, oferecia fraternidade

E ela, Maria, fraca e pequena, oferecia sua reverência e adoração.


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A cena de Jesus com seus amigos em Betânia, pouco antes de entrar em Jerusalém e consumar tudo, desperta em mim uma ternura por esse lado humano do Senhor. Ele quis estar com seus amigos, ali Ele se preparava para assumir a Vontade do Pai. Para mim, cada um de seus três amigos representam um aspecto dessa relação essencial na vida de todo ser humano.


Essa poesia foi fruto de uma experiência de oração em 2018, mas sempre volto a ela, desejando também, ser amiga de Jesus. Se você está aqui lendo isso, rogo a Deus que essas palavras te ajudem a também ter uma experiência nessa Semana Santa.


Publicação original

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Começar 2021 em silêncio e de joelhos


A maioria das pessoas planeja como vai começar o ano, e, de certa forma, a maneira que escolhemos iniciar este novo período, reflete nosso desejo de como viver o novo que vem. Passar a virada de ano ao lado de quem se ama, em um lugar bonito, numa praia, numa festa, com música e luzes, em um lugar silencioso, com pouca gente, só com os mais íntimos, com música ao vivo, em casa mesmo, vendo ou ouvindo algo que gosta. Há inúmeras opções para viver esse ritual de passagem de um ano para outro. 

Mas dentre tantas alternativas, pareceria inusitado passar o momento que para tantos é cheio de barulho e alegria efusiva, de joelhos e em silêncio. Por que se ajoelhar? Por que silenciar? 

Diante da lembrança de tantos meses vividos, o silêncio ajuda a fazer memória das graças e desafios enfrentados, o silêncio ajuda a retomar os propósitos feitos nos dias passados, ajuda a enxergar que em tudo que passou, há motivos para louvar. No silêncio encontramos as razões para ter gratidão por um ciclo concluído, afinal de contas, tudo passou, e no silêncio, renovar a certeza de que, de fato, tudo passa. 

No entanto, há algo que não passa. E diante da verdade imutável, daquele que é o vencedor e quer nos ensinar a triunfar sobre tudo o que passa, vale a pena se ajoelhar. Por isso, ajoelhar-se nos ajuda a baixar nossa altivez e equilibrar nosso ego, ajuda a acalmar a correria e agitação na qual estamos imersos tantas vezes, ajuda a parar e contemplar. De joelhos, olhamos para o centro de tudo, para aquele que tudo pode realizar em nossa vida, e a Ele, a Jesus, confiamos todas as expectativas e planos do novo ano. 

Em silêncio e de joelhos começamos nosso ano, reconhecendo a bondade de Deus que nos ajudou a passar por todas as situações do ano de 2020. Diante dele, renovamos nossa fé, nossa esperança e somos inflamados por seu amor que nos constrói e abre à nossa frente um horizonte belo e pleno de perspectivas de progresso e crescimento. Desta maneira, damos ao Deus que está a nossa frente, o senhorio, o poder sobre nossa vida.

Em silêncio e de joelhos percebemos nesse movimento, aparentemente imóvel, que tantas vezes procuramos mudar o que estava ao nosso redor e não tivemos sucesso; percebemos que o esforço maior deve ser em mudar o que está dentro de nós, a isso temos acesso, e isso pode transbordar com um potência real de mudança externa. 

Por isso essa foi a forma que tantos escolheram iniciar o ano de 2021, deixando que assim, as promessas de um novo amanhecer, fizessem as luzes desse novo tempo iluminar um caminho edificado na esperança. E o melhor de tudo é que, mesmo que você não tenha vivido sua virada em silêncio e de joelhos, essa postura gera um efeito transformador a qualquer momento, porque o Deus que opera as graças, está sempre nos esperando para fazer o sol da sua justiça amorosa e misericordiosa brilhar sobre nós.

Publicação originalhttps://comshalom.org/comecar-2021-em-silencio-e-de-joelhos/

sábado, 25 de julho de 2020

6 Filmes que têm a sala de aula como plano de fundo e histórias inspiradoras

Esta postagem é sobre filmes! E a ideia me veio após assistir Escritores da Liberdade. Apesar de ser de 2007, só o vi um dia desses. Fui realmente impactada pela produção, e por causa disso, comecei a pensar no quanto os filmes que têm uma temática que toca na relação professor e aluno mexe comigo. A reflexão levou-me a listar seis filmes que gostei muito e que são desse tipo. Eis aqui algumas razões para esse apreço.   

A sala de aula toca muito minha história de vida. Sempre gostei da escola. Fui professora por alguns anos. Esse ambiente sempre foi querido para mim. Na escola, teoricamente, você entra de um maneira e sai mais enriquecido, a cada dia uma novidade te espera, te encontra, te toca. Muitos dos valores do ser humano são construídos dentro de uma sala de aula, ou deveria ser assim. Por ser processo, a beleza do que acontece nesse lugar, é contemplada em períodos curtos ou longos, envolvendo diferentes áreas do conhecimento. Lá você também se encontra com o outro, e tem a chance de se relacionar com os mais variados tipos de pessoas. 

Nos últimos meses as escolas estão fechadas por causa da situação pandêmica em que estamos inseridos, a solução temporária adotada pelas escolas e universidades foi o ensino online, que no Brasil, é inacessível para muita gente pela falta de condições de equipamento e internet. Realmente uma tristeza! Além disso, teve até um ciclone destruindo instituições de ensino no sul do país recentemente! Porém, acredito que não são essas as maiores ameaças contra o poderoso processo de aprendizagem. O que mais deveria nos preocupar é que o potencial de transformação pessoal e social que este lugar oferece está sendo mitigado, pouco desenvolvido.

De quem é a culpa? Não tenho a intenção de apontar ninguém aqui. Quero somente comentar alguns aspectos desses filmes que me emocionaram e me fizeram pensar no quanto seria fantástico se essas intervenções acontecessem realmente, e com mais frequencia. 

Escritores da Liberdade e Mentes Perigosas tratam, por exemplo, da relação entre os alunos. A transformação que a educação gera ali é de tolerância, de menos preconceito com o outro. O professor, como um mediador e facilitador de um processo reflexivo, contribui para que aquelas pessoas que nutrem uma aversão umas pelas outras, encontrem um caminho de diálogo. Os problemas entre os alunos são por motivos diversos, mas independente das razões para o ódio, é proposta uma razão para a fraternidade. Esse novo modo de ver o outro beneficia a todos, cria um ambiente agradável em que os personagens sentem-se mais seguros para ser quem são e para buscar melhores condições de vida. 

Em A Corrente do bem, um menino leva tão a sério o projeto proposto pelo professor de ter uma ideia para mudar o mundo que coisas extraordinárias começam a acontecer, principalmente com os que estão mais próximos dele. A confiança de Trevor acaba movendo o comovendo sua mãe, seu professor, um rapaz que mora na rua, e por meio deles, um contágio de gestos de bondade com o outro se espalha!

Mudança de Hábito 2 trata mais especificamente da contribuição que a música pode trazer como via para o aumento da auto estima dos alunos e crescimento do interesse em aprender e se desenvolver. Aqueles jovens que não acreditavam em si e que corriam o risco de não ter mais um lugar para estudar, ganham um novo sentido a partir do reconhecimento de suas capacidades e envolvimento com a tentativa de manter a escola aberta. 

Sociedade dos Poetas Mortos tem um lugar especial no meu coração! Ele trata, dentre outras muitas coisas, de algo que considero muito importante: ser autêntico! O professor John Keating ajuda seus alunos a saírem de uma prisão comportamental e começarem a pensar, a sentir. Sorriso de Monalisa também traz uma quebra de paradigmas na vida das personagens que começa a emergir por causa das reflexões propostas pela professora. Aqui, os tabus do que significa ser uma mulher casada dentro do contexto das alunas é confrontado. Os dois filmes trazem exemplos de resultados positivos e negativos que a ebulição de novas perspectivas traz a vida dos personagens.

Isso foi apenas um brevíssimo e superficial comentário sobre cada uma dessas produções. Mesmo porque não quero ficar contando o filme todo! Mas posso dizer que em todos eles há um cultivo de esperança que me encanta. Sempre há pessoas que não acreditam na mudança, na melhora. Sempre há problemas nos sistemas e desafios sociais que ultrapassam a simples boa vontade humana. Mas a construção de uma relação cheia de sentido consigo, com o outro e com o mundo, pode gerar um impacto surpreendente. É belíssimo ver a esperança nascendo e tomando forma na vida dos personagens, trazendo brilho ao olhar, fomentando a capacidade de sonhar e buscar realizar algo bom.

Afinal, como é importante a educação, o conhecimento e o processo de relação e construção de valores que existe potencialmente numa sala de aula! E como ele realmente não deveria ser negligenciado por ninguém! Quando essa extraordinária potência não se torna ato, todo mundo perde! 

Registro aqui meu desejo e minha prece para que a esperança, o conhecimento, a sadia relação e a transformação de vida nunca saiam da sala de aula, ou melhor, que elas estejam sempre lá, e saiam de lá para afetar e melhorar o indivíduo e o mundo.

Segue a lista, por ordem de lançamento, dos filmes citados com suas respectivas sinopses para quem se interessar.

1. Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society) – 1989

Direção: Peter Weir

Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos".

2. Mudança de Hábito 2: Mais Confusões no Convento (Sister Act 2: Back in the Habit) – 1993

Direção: Bill Duke

Deloris Van Cartier (Whoopi Goldberg) agora é uma cantora famosa e retorna a São Francisco para ajudar suas amigas freiras. Sua missão é dar aulas de música para adolescentes rebeldes que estudam em um colégio barra-pesada da vizinhança. Para piorar, o local corre o risco de ser fechado.

3. Mentes Perigosas (Dangerous Minds) – 1995

Direção: John N. Smith

Uma ex-oficial da marinha abandona a vida militar para ser professora de inglês. Só que logo na primeira escola em que começa a lecionar, ela vai se deparar com diversas barreiras. Sendo um colégio de negros, latinos, e na maioria de pessoas pobres, ela terá que lidar com a rebeldia dos alunos. Como a professora Louanne Johnson não consegue através de métodos convencionais a atenção da sua classe, ela parte para outra forma de ensino. Passa a dar aulas com karatê e músicas de Bob Dylan, tentando ajudar a turma através de métodos pouco convencionais.

4. A Corrente do Bem (Pay It Forward) – 2000

Direção: Mimi Leder

Eugene Simonet (Kevin Spacey), um professor de Estudos Sociais, faz um desafio aos seus alunos em uma de suas aulas: que eles criem algo que possa mudar o mundo. Trevor McKinney (Haley Joel Osment), um de seus alunos e incentivado pelo desafio do professor, cria um novo jogo, chamado "pay it forward", em que a cada favor que recebe você retribui a três outras pessoas. Surpreendentemente, a idéia funciona, ajudando o próprio Eugene a se desvencilhar de segredos do passado e também a mãe de Trevor, Arlene (Helen Hunt), a encontrar um novo sentido em sua vida. 

5. O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile) – 2003

Direção: Mike Newell

Katharine Watson (Julia Roberts) é uma recém-graduada professora que consegue emprego no conceituado colégio Wellesley, para lecionar aulas de História da Arte. Incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio em que trabalha, Katharine decide lutar contra estas normas e acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios da vida.

6. Escritores da Liberdade (Freedom Writers) – 2007

Direção: Richard LaGravenese

Em Escritores da Liberade, uma jovem e idealista professora chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a tolerânica e o respeito ao próximo.

Sinopses retiradas do site: adorocinema.com

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Uma homenagem ao Dia da Pizza

Não sei você, mas eu poderia dizer que uma das melhores coisas que existe é sentar ao redor de uma mesa partilhando o alimento e a vida com pessoas queridas. Concorda?

Outro ponto que eu gostaria de ressaltar é como esse momento, infelizmente, tem se perdido na correria da rotina diária e na nossa dificuldade em lidar com o mundo virtual, na nossa tendência de ficarmos presos nas telas dos smartphones. Poucas coisas podem ser tão analógicas do que esse papo descontraído e fico pensando que é realmente um desperdício não vivê-lo com a importância que ele tem.

Pois bem! Se você está lendo isso agora, saiba que existe um motivo muito nobre que fez com que essa reflexão sobre as refeições de cada dia fosse levantado. Essa motivação foi a Pizza. Isso mesmo, a pizza! Afinal hoje é dia dela! Segue um pouco da história para você entender esse dia de festa:

Dia 10 de julho. Dia em que celebramos o Dia da Pizza no Brasil. A Pizza tem seu dia por causa de um concurso que deu tão certo que o secretário de turismo da época acabou escolhendo o dia do encerramento do evento, 10 de julho, como data oficial de comemoração. A Pizza é um dos alimentos mais consumidos no mundo, e sua origem é tão antiga que há diferentes opiniões sobre os primeiros a fabricarem a redonda. Egípcios, Hebreus, Chineses? Não se sabe exatamente, mas foram mesmo os Italianos a produzi-la da maneira que conhecemos hoje e que a tornaram popular em todo mundo. Quase o mundo inteiro conhecia a pizza no final do século XIX. E até a própria palavra “pizza” causa divergência quanto ao seu sentido e origem, e mais uma coisa interessante sobre ela, é seu caráter intraduzível, uma palavra intraduzível: O que é pizza? Pizza é pizza! Pizza é pizza aqui e em qualquer lugar. 

Nesse dia da redonda vale pensar nesse momento tão especial de estarmos reunidos para saboreá-la e conferir quanto sabor há em ouvir o outro, sorrir com o outro. No breve histórico acima você viu que a Pizza é: mais antiga do que se pode confirmar; que muitos povos já cozinhavam algo parecido, fazendo com que se torne complicado dizer quem a inventou; e que a palavra pizza é universal e intraduzível. É sobre esses três pontos que vamos falar.

Eu amo pizza! Porém, mais do que apreciar essa delícia, posso dizer que amo esses momentos em que paramos para dar um pouco da nossa vida para o outro e receber o tesouro da presença dele. Na mesa vale assuntos sérios, assuntos aleatórios, e aqueles só para rir mesmo; vale partilhar segredos, crescer no conhecimento do outro, aprender algo novo; e sair daquele momento enriquecido com a partilha, renovado na alegria de não estar sozinho nesse mundo e desejando o melhor àqueles que dividiram a mesa e o alimento com você, levando a vida do irmão para a sua oração.

Partilhar é algo vital! O ser humano precisa falar e precisa ouvir, não fomos criados para o isolamento. E se formos pensar em quem, onde, quando, essa tradição de sentar ao redor da mesa para tomar as refeições começou, vamos achar uma série de teorias, sem uma comprovação. Isso poderia levar-nos à conclusão que desde sempre, houve esta inclinação natural à estar com o outro, enquanto comemos. Mesmo não sabendo quando isso começou e quem inventou.

Partilhar é algo universal! Todas as nações, em todas as línguas, com as peculiaridades de cada cultura, todo mundo, de alguma forma, se reúne com aqueles que fazem parte da sua vida, ao redor de uma mesa para comer e para conversar. Esse momento é compreensível no mundo inteiro, funciona em todas as línguas!

Ou seja, tudo a ver com a Pizza! Que neste dia 10 de julho você consiga tirar um tempinho para viver essa experiência de partilha. Ninguém sabe quando começou, nem quem inventou, mas essa coisa de sentar matar a fome e sair da mesa edificado com a vida do outro, é universal e intraduzível e pode fazer a diferença no seu dia hoje e na sua vida para sempre! Mas se não der hoje, não se preocupe, todo dia é dia de pizza e também de partilha!


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A PIZZA! Como eu a amo resolvi republicar este texto que escrevi ano passado. Ele ainda não estava aqui no blog. Abaixo está o link da publicação original. 

quarta-feira, 17 de junho de 2020

A árvore que existe aqui e ali

Olhou pela janela mais uma vez.  Agora o vento estava bem forte, gostava especialmente destas ocasiões, porque era quando os galhos daquela árvore se moviam mais. Naqueles dias em que se passava mais tempo dentro de casa do que fora, tornara-se um hábito silencioso contempla-la: suas folhas verdes, os pássaros que a povoavam, seu movimento em sincronia com o clima, a chuva que se derramava em cima dela. Gostava mesmo daquela árvore!

Ela compunha uma paisagem interessante. Em meio aos edifícios que circundavam toda aquela área, ela reinava no quintal da única casa que podia se enxergar por ali. Era única, mas não parecia deslocada. Não sabia que tipo de árvore era aquela, nunca se interessou muito por este assunto de plantas, mas ela, de maneira especial, sempre tinha um jeito de captar seu olhar. 

Não era muito familiarizada com árvores porque era alguém que crescera no cenário urbano, casas e prédios, asfalto, concreto, calçadas e passarelas. As plantas eram artigos dos canteiros e jardins, ou das paisagens rurais, que achava bonito, admirava, e olhava de longe. Ao menos neste processo sua relação com aquela árvore seguia o padrão: olhava de longe.

Lembrou-se da maneira que muitas vezes se sentiu ao assistir programas, vídeos e filmes em que se mostravam as maravilhas das paisagens florestais. As cores, os animais, os sons, achava que tudo aquilo era gracioso, mas quase sempre pensava: "É lindo, mas eu não queria estar ali no meio". Tentou imaginar-se subindo aquela árvore que observava do seu apartamento, e riu, concluindo que realmente preferia olha-la dali, ainda mais considerando que nunca havia subido numa árvore daquelas. Será que havia algo errado consigo?

Foi assim que trouxe à memória uma experiência que teve, num momento, há alguns anos atrás, em que comparara aquilo que estava vivendo e meditando com o seguinte cenário: uma rua de concreto que estava com o chão quebrado, embaixo podia-se ver que havia terra e até uma planta sufocada, mas predominava o concreto. Esta imagem a ajudou a refletir sobre si muitas vezes... Gostava do ambiente organizado, plano, bem construído. A terra era bagunçada, sujava as coisas, não tinha muita ordem, as plantas não cresciam uniformemente, não dava para saber para que lado iria cada galho, qual seria o tamanho das folhas. Por isso preferia o concreto. Poderia ser bom quebrar mais o chão e ver o que tinha embaixo? Era difícil quebrar o chão duro, ia fazer sujeira e bagunça, mas talvez valesse a pena!

Era isso! A árvore que enxergava pela janela representava, de certa forma, aquela quebra. É claro que se você considerar a lógica da construção daquela cena, os prédios viriam depois e a árvore é o de mais natural e antigo que existe ali. Mas na sua imagem mental, era o contrário, o natural era o asfalto, e a árvore nascera das brechas do chão quebrado. Ficou imaginando o que poderia haver embaixo de todos aqueles prédios que observava. Será que eram eles realmente a melhor versão daquela paisagem? Será que se fosse de outra forma teria mais beleza, teria mais sentido?

E lá vinha mais dois pássaros pousar em um dos galhos da árvore, eles tinham um canto agradável, eram, em parte, amarelos, mas não sabia nomeá-los, também não tinha conhecimento sobre este assunto. Só gostava de vê-los de longe também. A árvore atraía os passarinhos, ela atraía vida, mesmo na sua imobilidade, ela gerava movimento ao seu redor. Isto era encantador!

Seu movimento não era seu, era do exterior que vinha o vento, a chuva, a poda, que transformavam sua figura. Imaginou que a colaboração da árvore era não se opor ao movimento exterior, talvez se resolvesse se opor à ação do vento, por exemplo, seus galhos quebrariam facilmente! Mas que bobagem pensar nisso, sendo que a árvore obviamente não tem consciência dos movimentos externos que a afetam. Mas existe um movimento não consciente, mas natural e constante, de sua parte: o crescimento. A raiz cresce, a copa cresce, sem muita ordem e cálculo, mas cresce. E ao passo que expande sua raiz, mais forte ela fica. 

Sentiu certo afeto por aquela árvore, e quase invejou algumas de suas características. Como por exemplo o fato de que ela expressava, ao mesmo tempo, firmeza e flexibilidade. A firmeza era mais interna, lá embaixo da terra, com suas raízes fortes;  a flexibilidade mais visível, se manifestava no clima, na poda, no acolhimento dos outros seres. Talvez devesse aprender a ser mais assim. Traçou outros paralelos em sua análise, alguns divertidos, outros absurdos! Riu de si naquela conversa muda com sua amiga. E permaneceu olhando de longe, gostava assim.

Estava feliz porque ela havia sobrevivido em meio àquele ambiente residencial. Uma árvore não era algo com que se envolvia diretamente no seu cotidiano; e mesmo assim, naqueles últimos meses que olhara tantas vezes para ela, percebeu o quanto era agradável sua existência ali, além da moral da ecologia. Enfim, voltou à imagem mental daquele chão quebrado e das pequenas brechas, decidindo-se por investigar o que mais havia ali embaixo...

Passou um tempo e começou a chover, ela ficou lá, como quem sorve a quantidade necessária de água, como quem não se esquiva de todas as agitações contingentes. 

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O que é preciso

A dor do pecado me atormenta, sinto-me culpado e indigno
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Tenho medo do que me pede, do amanhã, do sofrer, do risco
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Tudo o que vejo parece maior do que eu, nesta incapacidade fraquejo e me paraliso
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

As belezas do mundo me encantam, me arrastam o prazer, o gozo, os sentidos
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Apavora-me a solidão, então cerco-me de relações, luzes e possibilidades, e me divido
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Eu saio de Vosso abraço e busco outra atenção, resolver minha vida, preencher meu vazio
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Faço tanto, corro tanto, que tiro de Vossas mãos a obra e o motivo
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Sonho em ser o primeiro, aquele preferido, o mais amado, admirado e querido
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Quero experimentar, ter, viver, sentir e fazer, sem me prender ao Vosso juízo
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Não compreendo a dor do mundo, preso em mim, o valor do outro se perde no meu egoísmo
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Sou inconstante, incoerente, há um turbilhão entre o que eu quero, penso e sinto
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

Tanto eu recebo, tanto Vos experimento, que é absurdo ver que ainda me perco, ainda duvido
Mas dai-me um coração apaixonado por Vós, e só disto que eu preciso.

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Apaixona-me por Vós,
Com Vosso Amor purifica toda a potência que trago em mim pela paixão.

Apaixona-me por Vós,
Conquista todo espaço que cedi ao devaneio, à ilusão.

Apaixona-me por Vós,
Vence tudo que não é Vosso, toda a tentação.

Apaixona-me por Vós,
Convence-me de Vosso caminho, verdade e salvação.

Apaixona-me por Vós,
Pacifica toda guerra contra Vossa Vontade, cesse a rebeldia e a murmuração.

Apaixona-me por Vós,
Sacia a minha sede de absoluto, de intensidade, de perfeição.

Apaixona-me por Vós,
Lança-me ao outro, à Caridade, ao desprendimento, à doação.

Apaixona-me por Vós,
Deixa-me experimentar a Misericórdia, que me levanta e lava meu coração.

Apaixona-me por Vós,
Resgata minha alma do abismo, da tibieza e da confusão.

Apaixona-me por Vós,
Que amar-Vos no que sou e no que faço, seja minha meta e direção.

Apaixona-me por Vós,
Marca-me profundamente com Vosso chamado e eleição.

Apaixona-me por Vós,
Une-me eternamente ao caminho que me deste para conhecer a Cruz e a Ressurreição.

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Amar-Vos Deus, apaixonar-me por Vós, amar-Vos e estar ao Vosso amor unido
Imutável, sobrenatural, louco, incompreensível, eterno e cheio de sentido
Deixar que a cada dia ele me desperte, me guie, seja auxílio e abrigo
Lutar contra o que me afasta dele, pela graça viver, ser sustentado e movido

Sim, eu descobri, que é só disto que eu preciso.

domingo, 3 de maio de 2020

Ordinário. Inusual. Extraordinário. Essencial.


Naquele momento andava pela rua deserta, como estava fazendo já por um tempo. Prestava sempre atenção no movimento, ou na ausência dele. Quase todos os dias, deserto. Alguns carros passavam, uma ou outra pessoa andando carregando uma sacola de supermercado. Era engraçado que quando os olhares se cruzavam, eles eram de desconfiança, um medo ou um certo pesar por estar na rua... Muito estranho! Havia um homem que ficava sempre sentado numa esquina, às vezes acompanhado de uma mulher e uma criança. E o que mais gostava era a pessoa de um dos prédios que tocava piano. Não era possível identificar de onde exatamente vinha o som, mas gostava de imaginar que era uma senhora, tocando o piano bonito da sua sala para espantar a solidão. Pronto! Era este o cenário da nova realidade da cidade, do estado, do país, quase do mundo inteiro. Respirava fundo fazendo sua prece e afirmando, é transitório, vai acabar.

ORDINÁRIO
Nisso viu-se transportada à uma reflexão sobre o ordinário. Era fato que sua vida ordinária já era bem estranha para a maioria das pessoas. Seu ordinário era viver em silêncio durante toda a manhã, celebrar as laudes, a Missa, rezar duas horas. Almoçar com sua grande família, ir ao seu trabalho a tarde e etc. Via muita gente ao longo do dia. Participava frequentemente de eventos que reuniam milhares de pessoas. Planejamentos, reuniões, acompanhamentos. Ouvir os outros, tocar na vida dos outros, interceder pelos outros. Colocar o que sabia a disposição e se dispor a sempre aprender coisas novas. Suspirar e fechar os olhos fazendo uma prece e dizendo: isso tudo me ultrapassa, eu não aguento se eu tomar as rédeas, eu Te deixo no controle, Senhor. Esse era o ordinário, que afinal, nunca foi comum...

INUSUAL
O ordinário a fez pensar no inusual. De repente tudo mudou. Não haviam mais as multidões, os barulhos, o movimento de cada dia. Era um tipo de isolamento, uma medida de segurança, uma imposição das autoridades para a segurança do povo. Uma loucura! Uma situação que causava uma perplexidade e um estranhamento profundos. O inusual empoderado ditava um distanciamento social, criava o deserto na rua já descrita, mexia com o psicológico e com a vida de todo mundo. Era uma sensação de incerteza, uma aflição pelos que estavam em risco. O inusual trouxe muitas ausências: De coisas, pessoas, lugares, do sagrado, do bom hábito. E agora? O contexto empurrou todo mundo para outro mundo onde não havia deserto, onde a barreira do distanciamento físico nunca fora um problema: o continente digital. Todos ficaram mais online do que nunca. Na rede, não havia impedimento de aglomerações. A maneira de comunicar e trabalhar era assim: reunião virtual, home office, video call, mensagens, áudios... E toda a novidade que aparecia! Bom? Ruim? O julgamento fica em segundo plano quando a circunstância não parece permitir outra saída. O inusual parecia ter uma característica sorrateira, que podia transformar boas intenções em armadilhas. Observava e ouvia tantas histórias, as pessoas pareciam mais vulneráveis. Quanto menos mobilidade havia, mais agitação interior parecia haver. Ativismo, desejo de aparentar que estou fazendo muitas coisas, coisas boas. Será? Era um terreno desconhecido, como aqueles de joguinhos de campo minado, em que cada passo exige uma análise para não pisar e "boom". O inusual instaurou-se e ninguém sabia quando ele ia embora. 

Em tempos em que a vida ordinária muda drasticamente e que o inusual assume a situação trazendo soluções paliativas, tentava pensar no bem que saía de toda aquela confusão. Sua primeira conclusão foi: realmente a criatividade é algo belíssimo, que só pode ser profundamente entendida como um reflexo divino: Deus, o criativo por excelência, o Criador. Que belo traço de criatividade Ele deixou em suas criaturas. E para o bem ou para o mal, de fato, criatividade não faltava...

EXTRAORDINÁRIO
Com isso, mergulhou no extraordinário! Ah este era muito presente no seu ordinário. E felizmente, o inusual não o roubou. Pois é! O extraordinário se reinventou. Era uma avalanche de informações e de iniciativas de solidariedade. Eram ações de anúncio de fé, esperança e amor criadas a cada dia. Era muito trabalho, mas de uma forma totalmente diferente. Era como se tudo parasse para que pudesse ser observado e reavaliado. Multiplicavam-se a cada dia as ideias. Crescia a cada dia o desejo de levar o extraordinário, de mostrar que ele estava vivo e operante para aqueles que estavam com o olhar preso o inusual. 

ESSENCIAL
O extraordinário com sua força latente revelava o essencial. Era uma dor estranha, porque existiam muitas complicações vindas daquela situação inusual. É verdade! Mas além dos muros do isolamento, além dos números aterrorizantes, além dos conflitos internos e externos, estava intacto o essencial. Ele é a verdade que não engana, o norte que orienta, a promessa que não falha. Por isso o extraordinário agora era multiplicar formas de comunicar o essencial, porque é Ele a salvação e a chave da sanidade no tempo da crise. O essencial é belo, Ele saiu dos limites de um espaço sagrado, para encher de beleza os lugares de confinamento. O essencial é bom, Ele se compadece e move a compaixão no coração de tantos que dão de si para ajudar o outro. O essencial tomou diferentes formas e formatos, penetrou nas mais variadas redes, multiplicou experiências para que os isolados pudessem estar juntos de alguma forma. Reuniu virtualmente e efetivamente poucos ou muitos para cantar, sorrir, rezar, partilhar, se divertir. O essencial deixou-se captar por lentes de uma câmera, deixou-se reproduzir em pequenas e grandes telas. Uma verdadeira prova de uma graça viva e multifacetada. 

No escuro, na rua vazia, diante das portas trancadas, das notícias ruins, das incertezas do amanhã, dos gemidos de dor, dos suspiros de tensão, de uma sensação de liberdade roubada, de perdas irreparáveis, da ansiedade que ronda tentadora  querendo crescer no coração, o que fazer? Para! Faz sua prece e percebe que a presença e a voz estão ali! Era esta a voz que queria fazer ecoar para todos: O ordinário vai voltar e que seja melhor; o inusual passará e que suas marcas tragam amadurecimento; o extraordinário dinamicamente se esforça para nos ajudar a prosseguir; e o essencial nunca muda, nada pode destruí-lo e Ele prevalecerá. 

Publicação original: https://www.comshalom.org/ordinario-inusual-extraordinario-essencial/


quinta-feira, 30 de abril de 2020

Que 2020 é este?


Faz tempo que não atualizo aqui. Os dias têm sido intensos. Queria registrar o quanto o ano de 2020 está sendo o mais imprevisível que já vivi. Mas o que eu queria mesmo dizer é o quanto tenho louvado por ter um sentido de vida. Percebi que isto é realmente uma âncora que não nos permite ser arrastados pelas crises.


Tudo parece estar diferente. Muitas limitações estão impostas neste tempo. Há várias inquietações sobre o futuro. Há medo sobre o presente e medo pelos que amamos. Há uma comoção pelas vidas perdidas. Há uma amargura no sentimento de impotência diante de tudo isso.

Frei Raniero Cantalamessa, pregador oficial da casa pontifícia, disse em sua reflexão na Sexta feira da Paixão desse ano que um dos efeitos da pandemia é que a humanidade está "saindo da sua ilusão de onipotência". Eu concordo! E esta sensação, mesmo para os que dizem ter esta certeza, é bem desconfortável. O que fazemos diante de uma situação da qual não temos controle algum? 

Tenho pensado muito sobre  a insegurança a respeito da verdade. O que é real? O que é manipulação? Quais são os meios seguros de saber a verdade? Eu não sei! Só sei que volto ao princípio: o sentido de vida me ajuda a sublimar todo este contexto. A verdade da minha fé é a única que tenho mesmo segurança que não me enganará. E nela eu devo me apoiar. E vemos uma crise de saúde se desdobrar em crise humanitária, crise política, econômica e etc. Um cenário triste!

Eu não sou onipotente. Eu não tenho controle sobre as situações e sobre as decisões dos outros. Eu tenho minha fé. Eu tenho um sentido de vida. E aquilo que creio é a única verdade em que me apoio. É essa a lista que repasso em minha mente, que deixo cair no meu coração. Ela me faz desejar alimentar a fé, manter viva a esperança, experimentar e comunicar o amor. Por isso eu suplico, por isso eu rezo! Diante de um contexto que me ultrapassa, recorro ao Deus que ultrapassa tudo.

Que este tempo, que passará, possa nos amadurecer, possa despertar solidariedade e o valor da vida em nosso coração. Que passe nos fazendo lembrar do que é essencial. Que passe e não roube a fé. Que passe e nos ensine a olhar mais para o outro, a cuidar mais do outro. Que passe e que nós permaneçamos firmes, ancorados em Deus.   


A esperança, com efeito, é para nós como uma âncora, segura e firme. Ela penetra até além da cortina do Santuário, no qual Jesus entrou por nós, como precursor, feito sumo sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec. (Hebreus 6, 19-20)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Caminho Sagrado


O Advento é um tempo de preparação para o Natal, vivido em quatro semanas pela Igreja Católica. Nesse tempo somos convidados à uma revisão de vida, ao despojamento e à uma expectativa feliz pela vinda de Jesus.

Refletimos não somente sobre a vinda de Jesus à Belém há 2 mil e tantos anos atrás, refletimos também sobre a segunda vinda de Jesus, sua vinda definitiva. Por isso, esse tempo também é um convite à conversão. 


Esse texto é resultado de uma experiência de oração durante esse tempo de Advento, que possamos seguir por esse "caminho sagrado" que a fé nos aponta, porque é esse o caminho da felicidade sem fim. 



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Exulto, rejubilo, estremeço ao ver jorrar
Uma fonte abundante na secura que havia aqui
Enchendo meus olhos, meus sentidos, vendo a glória transbordar
Anunciando que a promessa da salvação vai se cumprir

Intensa, inebriante, uma  onda de paixão envolve meu ser
Que parece rasgar-me e colocar aqui uma santa aflição
Ouço Seus passos e ao se aproximar meu desejo parecer crescer
Vem e transforma tudo, faz do caminho sagrado, minha morada, minha prisão

Prende-me aqui, onde habitas, onde está a recompensa divina
E eu grito de alegria ao ver Tua luz a refulgir
Minha impureza e rebeldia, Tua chegada cancela, extermina 
Nesse instante em que, generoso, a alegria eterna me faz sentir


Me fazes voltar do caminho perecível, vens revigorar, fortalecer
E ao me alcançar, com perplexidade, vejo que não me tomas pela mão
Entendo assim, essa angústia, essa ânsia, que de uma graça estranha vem me envolver
Porque ao me levar ao caminho sagrado, não queres me perder, e me seguras pelo coração

Então deixo que segures, aperte, faça do Seu jeito
Prepara-me para Sua vinda, que ao Te ver eu siga Tua direção
Que essa chama de amor jamais se apague em meu peito
Toma meus passos, minhas mãos, em tudo opera Sua recriação

Tua alegria, Tua ternura, se misturam com meu medo e humanidade
Mas Seu amor onipotente aceita meu sim frágil, e minhas resistências desarma
Insuficiente, mas provando do Teu encanto, que me apaixona pela Tua vontade
Rejubilo e me movo pela graça, que faz tudo em mim bradar: Vem verbo de Deus, se encarna!