terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mistério dessa Felicidade...

Todo mundo quer ser feliz, certo? Mas tenho me questionado ultimamente se compreendemos a dimensão da Felicidade, se os nossos conceitos acerca desse algo tão grande não foram influenciados por fatores que podemos considerar não-verídicos.

Dois fatos me levaram a essa reflexão: o primeiro foi uma afirmação que ouvi de uma pessoa que considero digna de atenção e o segundo foi uma pergunta que lancei em uma roda de amigos e ninguém conseguiu responder pronta e claramente, inclusive eu... A seguir me explico melhor.

“Não existe felicidade e sim momentos felizes”, foi isso que ouvi e a frase me incomodou muito e por muito tempo. Ficava pensando... como assim não existe? E isso me leva à pergunta do segundo fato: “Qual a diferença entre felicidade e alegria?”. Esse foi o questionamento que ninguém conseguiu responder...

Há certo tempo eu queria escrever sobre a Felicidade, mas creio que esses dois fatos, que foram bem distantes um do outro, considerando as datas, precisavam acontecer. Fui buscar no dicionário, a definição dessas duas palavras e eis aqui o resultado:

Felicidade (latim felicitas, -atis) s. f. : Estado da pessoa feliz.
Alegria s. f. : Manifestação de contentamento e júbilo. O que causa essa manifestação.

Agora com os fatos apresentados posso, expor minha humilde linha de raciocínio e tentativas de conclusões...

Pode uma pessoa sorrir sem estar feliz? Mas se ela sorri está alegre? Creio que Charles Chaplin observou e também se incomodou com isso quando escreveu:

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz ♫ (Charles Chaplin - Smile)

O que externamos nem sempre, ou quase nunca, é um retrato fiel do que sentimos. Não considero o ser humano um grande fingido por causa disso, como já foi declarado por grandes pensadores ao longo da história. A cada dia que passa vejo que o ser humano peca é pela falta de autoconhecimento, mas isso é outra história...

O que nos interessa é que o que é externo é a manifestação da alegria, seguindo a definição crua da palavra. Então, aquele momento intenso, aquela gargalhada longa, aquela sensação gostosa, são demonstrações de alegria, que são, sim, momentâneas... Pode-se dizer: eu estou ‘alegre’, ou ‘eu sou feliz’.

Para não entrarmos no conflito de ‘ser’ e/ou ‘estar’ e muito menos no ‘ser ou não ser, eis a questão’, vamos passar para o ponto central... E a misteriosa Felicidade?

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz... ♫ (O que é, o que é? – Gonzaguinha)

Gonzaguinha, nessa música, tentava definir a vida, missão bem difícil e que ele desempenhou de maneira bem interessante e válida, mas no meio do caminho ele acabou cutucando outra máxima: “E não ter a vergonha de ser feliz”...

Será que temos vergonha da Felicidade? Vergonha de pensar nela, falar dela, porque não a compreendemos? Nesse sentido me coloco no lugar daquele ‘eterno aprendiz’, que já pensou em algumas possibilidades, mas precisa sustentá-las no dia-a-dia...

Para mim a Felicidade existe e é o ‘estado’ que a definição já apresentou, é algo duradouro, ousaria dizer, até mesmo, Eterno... A Felicidade não é um simples sorriso ou explosão de paixões e emoções, ela não está no outro. Ela é paz, é conforto, é plenitude, é pessoal!

Talvez por isso, as pessoas confundidas com os conceitos, acabam mais uma vez parando no campo dos sentidos, e não se permitindo olhar mais para dentro, ir mais fundo e encontrar lá essa Felicidade que purifica nossas inclinações e nos sustenta.

Eu estou no início do processo, mas acredito na Felicidade! Não naquela que passa, não no momento, mas aquela que nos eleva à outra realidade, a realidade de sentir-se parte do Eterno, sentir-se peça integrante e importante do mundo, único!

Desejo que encontremos essa Felicidade, e uma vez que foi encontrado esse presente, não nos afastemos Dele. É fácil se render ao que é sedutor, envolvente, mas que possamos dar o devido valor àquilo que nos torna mais completos, mais nós mesmos.

Que a Felicidade seja buscada, seja cultivada, seja reconhecida, seja pensada. Que esse estado de ser feliz, marque nosso ser e nos faça ver que tudo o que acontece em nossa vida não é capaz de nos roubar esse dom.

Ninguém tira o que é guardado e cultivado dentro de você, e que a Felicidade cresça e amadureça aí no seu íntimo até chegar à Eternidade.

Da felicidade,
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz! (Mário Quintana)