segunda-feira, 18 de junho de 2012

Aquilo que continua

A gente caminha, pensa, olha, sente, planeja, imagina, deseja... Foi uma tarde de fim de semana. Dia lindo! Céu azul, sol gostoso, paisagens lindas.

Muita gente! Turistas, moradores, gente correndo, gente fotografando, gente fazendo piquenique, gente andando de mãos dadas, gente deitada na grama, gente trabalhando, gente sendo família, gente passeando, descansando... Muita gente, mas ninguém!

Nesse cenário agradável de uma cidade conhecida pela sua beleza cultural e arquitetônica andava, andava com toda a gente e com ninguém. Caminhava para passar o tempo, para se divertir, para ver todo o bonito que se tinha para ver, andava olhando tudo e todos, mas de certa forma, não enxergava ninguém. O olhar que percorria as ruas e lugares olhava mais para dentro do que para fora. O olhar que via o sol brilhar através das lentes da câmera ou dos óculos, tentava iluminar seu interior sempre em busca de respostas, em busca do caminho, não o caminho que percorria agora, mas o caminho que deveria percorrer.

Por horas esteve aqui e lá e aqui outra vez. Parando de quando em quando, mas não para descansar, porque não importava o quando andava, não sentia cansaço. Parava para gravar o que via, numa maneira de eternizar o momento, a beleza, a imagem, o sentimento.
Sempre buscava em um rosto que não conhecia uma chance. Chance do que não sabia, mas continuava buscando. Imaginava ter uma daquelas conversas empolgantes, interessantes, filosóficas, divertidas, inteligentes. Viver o que imaginava, mesmo sabendo que o imaginário nunca acontecia! Não se frustrava, simplesmente mantinha uma ingênua esperança e um riso sincero e meio contido no rosto. Perguntava-se se sentia falta da tal interação humana, porém não sabia responder definitivamente, ora achava que sim, ora achava que não! Afinal o momento estava tão bom que mais nada importava.

Enfim constatou que de certa forma interagia com uma infinidade de gente e sentimentos... Tudo por causa das músicas que ouvia... A música adicionava a todos os elementos uma trilha sonora que nem sempre parecia apropriada ao que se via fora, mas dialogava com o que se via dentro. Conversou com alguém que falava das nuvens que pareciam cantar e dançar e que encantavam com suas formas, conversou com alguém que falava de amor, amor que se perdeu, amor que aconteceu, amor que se nutria. Conversou ainda com alguém que falava de fé, alguém que falava do que é estar sozinho, alguém que dizia querer se encontrar, alguém que estava arrependido, alguém que não se importava, alguém que exalava rebeldia, alguém que confundia valores, alguém que falava de silêncio, alguém que gritava sua mensagem. E conversou muito! Conversou com o que estava dentro! E mesmo que a imaginação ainda traçasse ideais para o que estava fora, aceitou que aquela tarde havia sido para o de dentro.

Amizade, amor, paixão, turismo, descanso, família, trabalho, aprendizado... imagem, cheiro, som... Em tudo e em todos, uma pista do seu próprio caminho, um caminho do seu próprio objetivo, um objetivo de sua própria existência... A música continua, toda a gente continua, a voz de dentro continua, a conversa em silêncio continua.