quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A melhor época do ano

É comum perguntarem a ela porque tanta empolgação nessa época do ano. Uma pergunta comum que não tem respostas tão comuns assim, pois sempre que questionada, parece que algo se contorce dentro de si querendo responder de uma forma que nunca consegue.

Aquele ano apresentava-se diferente dos outros, mas pensava que não era de se espantar, afinal essa época é a mais criativa, empolgante de todas. No entanto, havia algo realmente novo, e era importante. Era a primeira vez que vivia esse período naquela casa, com aquelas pessoas, naquele trabalho, aí começou a traçar a evidência de que era natural estar diferente. Porém a maior diferença era dentro, no como estava se sentindo, no como estava vivendo e no como gostaria de viver.

Não queria falar de interior agora, é muito complicado... Exteriormente os enfeites lindos começaram a aparecer cedo, dois meses antes! Acabou ganhando uma velha brincadeira com o irmão de ver quem é o primeiro a apontar os enfeites a cada ano. Fazia tempo que não ganhava, começou por aí o diferente. O irmão reclamou do quão adiantados estavam os enfeites, mas aceitou a derrota, pronto para ganhar no próximo ano.

Mas os enfeites “precoces” geralmente não retratavam o sentido que ela, que sua fé, atribuía àquela época. Tudo tinha muito mais sentido do que o comércio explorava, é triste! Os enfeites que realmente carregam a carga de sentido que procurava viver, esses tinham datas bem definidas para começar a embelezar o mundo. Ela acolhia, mas lamentava dentro de si o fato dos enfeites sem sentido terem muito mais tempo de visibilidade do que aqueles que realmente importavam. Assim era, e assim sempre seria, e era lindo assim.

Foto: Unsplash
Mesmo que tentasse fugir, uma hora não dava mais, tinha que admitir e tentar entender o que estava tão diferente dentro de si. Sim, muitas mudanças na vida, mas era mais que isso. Percebeu que era a primeira vez que vivia sua época preferida do ano com uma nova postura interior. Havia abraçado uma realidade desafiante que pretendia viver para sempre. Estava em um caminho de decisões sérias, de assumir promessas. A partir dessa conclusão começou a perceber que sua alegria por celebrar aquela data não poderia mais ser por simples gosto, tradição ou euforia, seu compromisso de amor com àqueles festejos pediam um testemunho mais maduro e encarnado. Era isso? Por essa razão a pergunta “Por que você gosta tanto do Natal?” começara a tomar uma sombra de incômodo.
E a verdade é que começou a perguntar-se várias vezes a mesma coisa, e mais do que questionamentos alheios, os seus próprios estavam mais incisivos e frequentes: Por que eu gosto tanto do Natal?

Viveu sua época preferida a questionar-se, sem deixar que olhos admirados de quem via sua alegria efusiva penetrassem sua confusão interior. Acreditava que tudo na vida era regido por uma Providência que é Divina, e a providência quis que nesse ano, ela experimentasse de situações e sentimentos bem desagradáveis, e em cada um deles ela se via impulsionada a cantar a vitória, porque afinal, era Natal, não iria se entregar a derrota ou tristeza no Natal. Mas a providência insistiu em provar se aquela alegria era autêntica ou uma alegria infantil. Por vezes fraquejou, por vezes ficou decepcionada consigo, mas a Providência tem outros nomes, um deles é Misericórdia, e assim sempre resgatava o sorriso, a expectativa feliz e a empolgação. Estava chegando o Natal!

Ele chegou! Ela viveu e não foi como de costume mesmo. Até o fim teve que escolher viver a graça do tempo que tanto amava. Desejou que fosse mais fácil, mas entendeu que era como deveria ser para que aprendesse.

Durante toda essa jornada natalina foram muitas canções, sorrisos, leituras, meditações, partilhas, momentos, luzes, lindos enfeites, que encheram seus olhos e seu coração de um desejo de sentido muito grande. Até que resolveu, depois de muito conversar com o dono do Natal, tentar mesmo responder porque o amava tanto, porque era sua época preferida.

“Creio que deve ser por causa da atmosfera de beleza sem igual que encontro nessa época. Tudo me remete ao conforto do carinho de braços puros, tudo me remete à luz que não apaga e não encontra brilho que a ela se equipare.

Imagino ser por uma alegria terna, daquelas que sentimos quando estamos em família. De um lugar aconchegante, seguro, onde reina a paz daqueles que só querem desfrutar da presença uns dos outros, que encontraram felicidade em partilhar a simplicidade do amor.

Ainda penso que tem relação com as melodias entoadas, as canções tradicionais, os ritmos que embalam a época que parece cantar por si mesma, que parece ter uma viva trilha sonora a embalar os momentos tão sublimes que envolveram o evento naquela noite em que tudo mudou.  Talvez naquela noite, os homens tenham se aproveitado do contentamento dos anjos, e conseguido por alguns momentos ouvir seus arranjos e acordes, copiando a divina canção que atravessou tempos e terras para chegar aqui e agora.

Não sei, mas o clima é diferente. É misterioso e ao mesmo tempo certo. É intrigante e  ao mesmo tempo pacificador. É um Natal, um nascimento, mas um nascimento envolvido num amor tão grande que faltam as palavras para comentar. É natural que o início de uma vida seja celebrado, seja bem vindo, seja esperado, seja alegre... Mas o Natal é a vida da Vida, é um absurdo de compaixão por mim. É a minha salvação que nasceu. A minha esperança que nasceu.
O Natal é olhar para o Deus onipotente, criador, ali, feito um bebê, pronto para se colocar em minhas mãos. É o cúmulo do abandono e da confiança, deixar todo o seu poder para ter uma natureza como a minha e se submeter ao risco da minha ruindade. É uma lição sobre o que realmente importa: a simplicidade; o esforço de fazer com que o outro prove de algo belo e cheio de amor; o cuidado de uma mãe e de um pai; o silêncio fecundo de quem fala com Deus; o pouco que se torna tudo no mistério da prodigalidade divina; a felicidade de confiar mesmo sem conhecer o futuro, porque a Providência, aquela que desde o princípio orienta a vida, cuida de tudo”!

Por isso e muito mais do que pode descrever, ela ama o Natal, porque ele é lindo, ele é feliz, ele é santo e é cheio de um mistério, de um amor que não se esgota. Por isso é vão explicá-lo, melhor é vive-lo.

O Natal é Ele, é Jesus e Ele quis ser meu.


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Uma Jornada de Sol

Era tudo especial! Aquela viagem era uma sucessão de emoções, lugares, sentimentos, ensinamentos que se superavam e completavam. Mas como toda viagem, tinha data para acabar, e era quase nesse ponto que se encontravam.

Havia neles o desejo de tornar tudo memorável, mas sabiam que pelo curso que tudo tomava, isso não era difícil, não exigia tanto esforço... Naquela tarde, andar pelas ruas, cantando e deixando que a vida tivesse trilha sonora parecia combinar com tudo ao redor e certamente preenchia uma parte do coração que ansiava por emoção, por aquele sentimento que não se traduz em palavras, mas existe da sede de sentir-se próximo, sentir-se parte de uma sensação compartilhada. 


Essas sensações envolviam também uma imaginação divertida, que criava histórias para os pontos daquela cidade que nenhum guia turístico poderia superar, verdadeiros ou não, os fatos imaginados eram tudo o que precisavam naquele momento.


Chegando ao monumento que era o destino final... fotos, caminhadas, risos, conversas. Tudo era leve, fácil. O clima era muito agradável, fresco. Até a chuva fina foi bem vinda, o que estava fora refletia a dinâmica do que estava dentro. Mas o objetivo mesmo era registrar o fim de tarde e as luzes da noite daquele lugar. Esperar até que as luzes se acendessem não era uma espera interminável, afinal, a relatividade do tempo é bem ativa quando vivemos momentos agradáveis, tudo parece voar.

Luzes acesas, noite estabelecida, objetivo atingido, e então nasce uma outra ideia: jantar com vista para aquele ponto. A sugestão soava bem, e foi aceita por todos. Então começa a procura pelo lugar perfeito. Logo percebia-se que só um deles tinha certo critério na escolha do lugar, os outros pareciam aceitar tudo... Porque estavam tão envolvidos no momento que nada poderia estraga-lo, ou por simples ausência de exigências. A pessoa com critério assumiu a missão da escolha, passaram por alguns lugares, nada parecia preencher os requisitos desconhecidos, mas bem impostos. Quase  na esquina, onde parecia que o monumento que queriam observar já não seria tão visível, lá estava o restaurante.

Convencidos pela simpatia de uma hostess e talvez pelo fato que estavam acabando as opções, encontraram o lugar. Nem se aventuraram a olha-lo por dentro, afinal a meta era ter aquelas luzes e aquele monumento de pano de fundo. Sentaram-se em uma mesa na calçada. Um deles ficou de costas para a desejada vista, mas parecia não ligar. Acomodados, satisfeitos com a escolha, decidiram o que comer e beber. Foi quando os ânimos acalmaram, quando pararam, que perceberam o movimento que os cercava o dia todo, mas até então não os tinha alcançado. 

A saudade do que estava acabando, o receio do final e do novo início reinou. Esse cenário atingiu uns mais profundamente do que outros, mas como nos atos anteriores daquela peça compartilhada, todos embarcaram na sensação. Ela não era tão boa quanto as outras, tinha uma certa melancolia, um certo silêncio imponente, que transbordava em olhares perdidos e longos suspiros. Mas estava tudo bem! Não estava?

Foi quando a providência que os regia adicionou aquela surpresa oportuna. Quando menos esperavam ouviu-se o som da voz forte e agradável de uma cantora. Ela cantava músicas típicas daquele lugar, assim concluíram que viviam mais uma experiência para ser contada, e algo que quase todo mundo que ia ali buscava. Que feliz surpresa! Não era mais necessário criar uma trilha sonora para o momento, porque ela estava ali, perfeitamente atrelada ao local.

Porém, nem a música foi capaz de afastar a sombra que havia pairado entre eles, trazendo a notícia do quase final. O clima era leve, mas tinha perdido a leveza divertida que foi substituída por uma mais reflexiva. Poderia-se dizer que essa atmosfera apesar de melancólica, selava uma certa cumplicidade e intimidade construídas naqueles dias. Nesse clima não eram mais simples parceiros de viagem, ali partilhavam mais, partilhavam o que estava dentro, que era inexprimível, mas pela graça do momento, era totalmente subentendido por todos.

Ao som de "O Sole Mio" e "Funiculí, Funiculá" tentavam controlar a melancolia e viver aquela última noite juntos. Comentários aleatórios, planejamento do próximo dia, elogios ao lugar, a comida, a música, e a pessoa que não os deixou parar nas primeiras opções de restaurantes; ajudavam nessa missão.

Um foi olhar dentro do restaurante, e viu o quanto era bonito, e sugeriu que todos conferissem. E assim aconteceu, em rodízio foram olhar o local escondido. E enquanto aconteciam essas saídas e chegadas na mesa, o assunto escondido começava a emergir. Diante das partilhas e das luzes lançadas no mistério trazido nos corações começaram a falar do retorno. Para que tentar dissimular o que já estava óbvio?

Nas palavras ditas, e nas não ditas estavam expressos os anseios de corações que desejavam não viver sem sentido. Todos os desafios e as possibilidades desenhadas na vida para a qual voltavam queriam, na verdade, ser abraçados, encarnados. A experiência que os havia colocado naquele estilo de vida, dentro daquelas escolhas era extremamente exigente, mas completamente cheia de verdade, essa escolha os unia em um mesmo caminho, trilhado em lugares diferentes, de maneiras diferentes, mas que os levaria no final para uma mesma eternidade. Essa trajetória os deixava a vontade uns com os outros, gerava esse sentimento confortável de reciprocidade.

A voz da cantora cessou, o jantar acabou e eles saíram dali, carregando muitas coisas para refletir. No caminho para casa, mais sensações, filosofia de metrô, danças nos corredores, fotos cheias de sentido... Coisas de quem sabe viver, e sabe viver junto.

Nisso tudo ficam o pensamento, a sensação, a memória, e as palavras. Como é especial quando vivemos momentos que são registrados em nós como uma herança que não passa. Isso parece nos tornar mais humanos, mais próximos, mais vivos. A fé que une as pessoas que a comungam tem um poder singular de tornar especial o que é vivido por ela, pela fé e na fé. Partilhar momentos com quem entende a profundidade, simplicidade e importância deles gera essa calma feliz de quem pode relaxar e ser acolhido. Que bela coisa é essa jornada na qual a divina providência nos insere, é como aquilo que aquela trilha sonora cantava:

Que bela coisa uma jornada de sol
Um ar sereno depois da tempestade
Pelo ar fresco parece já uma festa
Que bela coisa uma jornada de sol
Mas um outro sol mais belo, ainda assim, o meu sol, está na sua fronte
O sol, o meu sol, está na sua fronte, está na sua fronte
Quando desce a noite e o sol deita-se
Me pega quase uma melancolia
Ficaria embaixo da sua janela
Quando desce a noite e o sol deita-se
Mas um outro sol mais belo, ainda assim, o meu sol, está na sua fronte
O sol, o meu sol, está na sua fronte, está na sua fronte
(Tradução de "O Sole Mio")

Em busca do sol que brilha onipotente e brilha na fronte do próximo a vida continua, como essa bela jornada de sensações, crescimento, morte e ressurreição. Uma jornada que pode ser partilhada com aqueles que encontramos no caminho e que estão caminhando na mesma direção. Jornada de finais, começos, desafios, surpresas agradáveis, mimos, e todo tipo de coisa. Jornada em que encontramos pessoas que caminham para lados opostos, e nelas descobrimos a alegria de anunciar a verdadeira direção. Jornada onde O Sol nunca falta! Afinal, Ele pode se pôr, mas nunca se apaga; e mesmo quando se põe, pode ser visto na fronte daqueles que caminham ao seu lado.



quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Que seja Ela Exaltada

Ergue Tua Cruz Jesus! Deixa que Ela fique lá no alto, onde todos podem ver, onde todos podem se questionar, sobre Ela e sobre Ti, sobre si mesmos, e sobre tudo.

Ergue Tua Cruz Jesus, porque dissestes que quando fosses elevado atrairia todos a Ti, e dessa atração somos necessitados, deste sinal que nos arrasta somos dependentes.

Ergue Tua Cruz Jesus, porque Nela está a contradição que traz a mais perfeita harmonia à vida humana. Nela está a loucura extrema que traz a completa serenidade e paz a todo aquele que crê.

Ergue Tua Cruz Jesus, e mostra que a dinâmica da vida é contrária ao esconder-se, ao poupar-se, ao proteger-se. Mostra a liberdade e a libertação contidas Nela, contidas no Teu corpo unido a Ela.

Ergue Tua Cruz Jesus, e seja mais uma vez sinal de novo tempo, sinal de princípio, sinal de eternidade, nesse rompimento com limites e contingências do que calculamos como ontem, hoje e amanhã.

Ergue Tua Cruz Jesus, e com Ela eleva nosso olhar. Que não fiquemos mais presos ao que vemos e sentimos, nessa vida aparente e sedutora, que quer manter nossos olhos naquilo que acaba e logo é substituído por algo supostamente mais interessante. Com nosso olhar fixo Nela, sejamos livres do erro e do engano.


Ergue Tua Cruz Jesus e com Ela eleva nosso coração. Que os cravos que Te prenderam a Ela, penetrem também em nós, nos ferindo e nos unindo, ao caminho que, por alto preço, conquistaste para cada um. Caminho reto, caminho certo, caminho real.

Ergue Tua Cruz Jesus, e transcende toda a mesquinhez da nossa mentalidade. Transcende nossa compreensão de felicidade. Transcende nossa visão estreita e nosso medo de dar.

Ergue Tua Cruz Jesus, e Nela abre os braços para convidar toda a humanidade a Te experimentar. Que Teus braços abertos acolham. Que Teus braços abertos deem novo sabor e novo sentido a cada realidade que se deixa alcançar.

Ergue Tua Cruz Jesus, e sede exaltado. Por Ela nos ensina a viver, por Ela nos ensina a sofrer, por Ela nos ensina a morrer, por Ela nos ensina a ressuscitar.

Ergue Tua Cruz Jesus, e sede exaltado. Seja Ela um memorial de um Cristo vivo, cujo caminho conferiu verdadeira vida à nossa existência. Seja Ela um memorial que se renova a cada dia, que é visitado a cada dia, porque quem A toca sempre experimenta a novidade e o mistério inexprimíveis.

Seja exaltado em Tua Santa Cruz Jesus. Porque Ela é sinal do Teu amor que não poupou nada, amor que nos ensina a amar, entrega que nos ensina a entregar, vida que nos ensina a viver. Que diante Dela nosso joelho se dobre e nossa língua confesse que és o único Senhor. Que Ela permaneça Exaltada, para que compreendamos que absolutamente tudo não A pode superar.