segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Caminho Sagrado


O Advento é um tempo de preparação para o Natal, vivido em quatro semanas pela Igreja Católica. Nesse tempo somos convidados à uma revisão de vida, ao despojamento e à uma expectativa feliz pela vinda de Jesus.

Refletimos não somente sobre a vinda de Jesus à Belém há 2 mil e tantos anos atrás, refletimos também sobre a segunda vinda de Jesus, sua vinda definitiva. Por isso, esse tempo também é um convite à conversão. 


Esse texto é resultado de uma experiência de oração durante esse tempo de Advento, que possamos seguir por esse "caminho sagrado" que a fé nos aponta, porque é esse o caminho da felicidade sem fim. 



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Exulto, rejubilo, estremeço ao ver jorrar
Uma fonte abundante na secura que havia aqui
Enchendo meus olhos, meus sentidos, vendo a glória transbordar
Anunciando que a promessa da salvação vai se cumprir

Intensa, inebriante, uma  onda de paixão envolve meu ser
Que parece rasgar-me e colocar aqui uma santa aflição
Ouço Seus passos e ao se aproximar meu desejo parecer crescer
Vem e transforma tudo, faz do caminho sagrado, minha morada, minha prisão

Prende-me aqui, onde habitas, onde está a recompensa divina
E eu grito de alegria ao ver Tua luz a refulgir
Minha impureza e rebeldia, Tua chegada cancela, extermina 
Nesse instante em que, generoso, a alegria eterna me faz sentir


Me fazes voltar do caminho perecível, vens revigorar, fortalecer
E ao me alcançar, com perplexidade, vejo que não me tomas pela mão
Entendo assim, essa angústia, essa ânsia, que de uma graça estranha vem me envolver
Porque ao me levar ao caminho sagrado, não queres me perder, e me seguras pelo coração

Então deixo que segures, aperte, faça do Seu jeito
Prepara-me para Sua vinda, que ao Te ver eu siga Tua direção
Que essa chama de amor jamais se apague em meu peito
Toma meus passos, minhas mãos, em tudo opera Sua recriação

Tua alegria, Tua ternura, se misturam com meu medo e humanidade
Mas Seu amor onipotente aceita meu sim frágil, e minhas resistências desarma
Insuficiente, mas provando do Teu encanto, que me apaixona pela Tua vontade
Rejubilo e me movo pela graça, que faz tudo em mim bradar: Vem verbo de Deus, se encarna!

sábado, 9 de novembro de 2019

Água









Escorre daquele Lado Aberto
Silenciosa e constante, vai os espaços alcançando
Cristalina, dinâmica, mostrando o caminho certo
Passa e tudo o que toca vai purificando

Como uma delicada nascente 
Que preenche o vazio e se move ligeira
Como uma poderosa torrente
Que desafia o que é duro e destrói a barreira

Submerge
Insere na corrente o que pretendia se desviar
Descongele
Passa sobre o que passou para ressignificar 

Traz abundância 
Verdadeiramente arrasta o que poderia se perder
Traz constância
Gradativamente aumenta o desejo de nesse fluxo permanecer

Torna salubre 
O que estava sujo e contaminado vem atingir 
Torna vivo
O que era estéril e jazia na morte faz ressurgir 

Atrai e conquista Sua simples beleza
Vede ao redor quanta vida nasceu
Ora mansa, ora violenta, Sua correnteza
Faz transbordar o bem que cresceu 

Às Suas margens pode-se encontrar 
Uma paisagem que contém o eterno em um momento 
Às Suas margens pode-se desfrutar
De folhas que são remédio, de frutos que são alimento 

Vai! Segue seu percurso, seu plano de salvação
Vai! E leva consigo tudo que precisa ser transformado 
Vem! Como Tu és, transparente e limpa torna a visão
Vem! E reconduz tudo àquela vida que escorre do Teu Lado.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Sobre um Retorno

Havia passado da meia noite. O carro que haviam pedido pelo aplicativo dava voltas e voltas tentando chegar em sua casa. Isso porque havia um grande trecho de reformas naquela área. Pensou sobre o quanto era engraçado saber onde queria chegar, saber o caminho, mas não conseguir por causa das tantas barreiras... 

Após várias tentativas e rotas corrigidas, chegaram. Respirando fundo pensou: "voltei". E esse retorno fez com que pensasse em tudo que havia acontecido naquela noite. Concluiu que a dinâmica da volta fora conforme o acontecido naquelas últimas horas.

Começou a repassar os fatos na sua cabeça. Tinha ido meio sem vontade, insegura sobre como tudo ia ser. Numa luta consigo mesma para sair de si, ficar no conforto de si. 

Entrou no transporte público fretado, cheio de rostos conhecidos. Olhou pela janela o caminho todo, se questionando por um instante se sua linguagem corporal dizia incisivamente "mantenha distância", mas permaneceu assim... Os olhos miravam, sem muita contemplação, as cenas que passavam pela janela. A cabeça repassava suas preces, num esforço por fazer, pensar algo bom. Acreditando que suas preces pudessem contribuir com o que iria acontecer em poucos minutos.

O momento agradável, só seu, acabou. Chegaram! Mais rostos conhecidos. Cumprimentos e sorrisos. Entraram numa capela pequena para orientações. Pensou que havia passado por ali muitas vezes, mas nunca havia entrado. Foi impactada pelos ícones e figuras que encontrou. Realmente, simples e belo. A beleza da história de um homem fraco, que em suas quedas e voltas, realizou algo grande e bom para muitos. Era Pedro, e esse belo lugar chamava-se Capela São Pedro. Na parede os peixes em alto relevo, de diferentes tamanhos e cores, sugeriam o "mar de gente" que haveria de encontrar naquela noite. Sentiu-se apreensiva, angustiada, temerosa... mas as orientações acabaram e saiu! Era hora de sair!

Comeu um sanduíche que havia preparado mais cedo para esse momento, em pé ao lado daquela capelinha, já vendo um significativo fluxo de pessoas. Eram os peixes...

Saiu acompanhada de dois rostos conhecidos, saíram como quem vai fisgar peixes, mas não é pescador; como quem tem algo valioso a oferecer, mas que a maioria das pessoas não sabe que quer. Dentro de si a loucura de tudo aquilo despertava um misto de incômodo e satisfação. Foi!

O cenário daquele local perto da praia era algo de encher o olhar, completamente! Mas os olhos não se enxiam do que poderia ser considerado 'natural'. Não se ouvia o som do mar, não se contemplava a beleza do céu, não parava-se para sentir a brisa, nem para ver as ondas quebrando na noite. 

Era um festival, fervilhando de gente, principalmente jovens. Via-se no local variadas formas de ser e de se expressar. Havia muitos em situações que não considerava muito positivas... Pensou naquilo que havia trazido para eles, e eles não sabiam. Que loucura! 

Falou com algumas pessoas. A cada conversa um universo, uma opinião, um ponto de vista, digno de respeito e reflexão. Oferecia o que havia trazido, sempre pensando se havia apresentado o que trazia da maneira certa...

A cada cena daqueles que contemplava de longe, a cada interação com aqueles que tratava de perto, muitas perguntas emergiam em seu coração, questões que inspiravam diferentes sentimentos. Sentiu compaixão, sentiu medo, sentiu-se profundamente agraciada, sentiu-se responsável, sentiu esperança, sentiu também temor da ausência dela.

Naquela noite falou sobre relações, sobre perdão, sobre confiar nos outros. Falou sobre estilo de vida, sobre encontrar algo que valesse a pena investir a vida, sobre sorrisos que revelavam alegria autêntica. Falou sobre filosofia, sobre mídias sociais, sobre grandes sonhos que nascem no coração e que podem ser realizados. Falou sobre muitas coisas, sobretudo sobre histórias de vida... da sua e da deles.

Repassando essas memórias lembrou-se, mais uma vez da dinâmica do retorno para casa... Realmente havia sido aquela a regência da noite inteira: saber onde quer chegar, saber o caminho, mas dar voltas e voltas, recalculando rotas, para atingir a meta. 

Lembrou-se também dos peixes em alto relevo naquela parede sacra... Não trazia os peixes nas mãos. Não os trouxe consigo no final da noite. Deu-se conta que deixou mais do que havia trazido. Deixou lá naquele lugar, naquelas conversas, naquelas pessoas: si mesma, deixou os sentimentos que estavam em si naquela ida desconcertante, deixou sua história naquelas palavras dadas aos ouvidos do outro, deixou o tesouro que havia trazido para compartilhar.

Nesse instante, mudou de opinião! Havia sim trazido muita coisa, não trouxe peixes nas mãos, de fato. Mas trouxe histórias no coração, trouxe sentimentos novos, trouxe um tesouro ainda maior do que o que havia levado. Poderia dizer numa frase estranha, mas que fazia muito sentido naquele momento, que 'trouxe na volta o próprio retorno'. Um retorno ao essencial, um retorno cheio de questões dentro de si, que geravam um movimento de vida. 

Que belo retorno, em suas voltas, e até revoltas, cujos caminhos podem ser cheios de obstáculos e mudanças, mas o fim permanece firme. O fim é sua casa, seu lar. O cálculo sobre ter deixado mais ou ter trazido mais, perdeu a importância. Só desejou não se esquecer daquela experiência, desejou não esquecer que era sempre preciso retornar. Retornar para ir cada vez mais longe.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Sabor

O paladar já sentiu, já provou diferentes sabores
E o gosto definiu, pelo comprovado, o que mais o atrai
Porém apresentou-se um outro, acompanhado por harmonia e cores
Diante deste tudo se cala, o que é inferior se retrai

Que é isso que sendo novo parece tão familiar?
Que encanta, que dá sentido ao todo que antes fora experimentado?
Corre, afasta tudo que possa esse divino gosto roubar
Voltem-se os sentidos para fruir da delícia que escorre do mistério encontrado

Olha, contempla, vislumbra por um instante
Neste momento em que o mais alto deixa-se atingir
Saboreia, permita-se envolver por essa Paz inebriante
Pelo gozo, puro e sublime Dele emanado, deixa-se conduzir

Sente então que sempre esteve ali, o seu rastro o seu sinal
Que ao tocar o paladar da alma o gosto despertou a Verdade
Suspira, arrebatado por um princípio em que não se encontra final
Exala gratidão porque desde já, te beija a eternidade.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A Marvel e o Endgame na minha vida

Não consegui decidir se iria falar sobre minha 'relação' com a Marvel, ou se iria falar de Endgame, o filme mais comentado do momento, e a segunda maior bilheteria da história mundial (até agora, porque acho que vai subir). Como não houve decisão, vou falar das duas coisas mesmo... Ahhh e importante dizer, tem spoilers nesse texto! Então se não assistiu o filme, não leia.

Sempre gostei dos super heróis, desde os desenhos da infância, passando pelas séries americanas da TV aberta, evoluindo para os longa metragens nem tão populares, chegando aos poderosos blockbusters. Acho fascinante a jornada do herói: a descoberta da missão, os sucessos e fracassos do percurso, a vitória final.

Falando em "Jornada do herói", já ouviu falar em Monomito? Segundo o antropólogo Joseph Campbell, escritor do livro "O Herói de mil faces", de 1949, essa forma de construção narrativa é encontrada nas principais histórias da humanidade!!! Campbell fala da jornada basicamente em três partes: a partida, a iniciação e o retorno. O herói vive algo fantástico, extraordinário, ele luta, vence, e aprende com o que viveu. Mesmo nesse contexto de fantasia, esse caminho encontra eco nas mais diversas situações da vida. Show!

Quem nunca sonhou em ser herói? Quem nunca desejou viver uma grande aventura e triunfar demonstrando grandes habilidades? Não sei você, mas eu já sonhei com isso inúmeras vezes, e continuo sonhando...

Para mim, esse eco que o heroísmo fantasia encontra na vida ordinária reflete uma sede de infinito presente no ser humano. Não estou falando de um sentimento megalomaníaco, estou falando de imaginação, de empolgação, de desejo de viver de verdade, de ver a grandeza mesmo das pequenas coisas, de enxergar valor e potencial nas 'missões' do dia-a-dia. Aí é traçado um paralelo entre a vida real, e o percurso das histórias dos heróis. Isso me lembra quando estudei "A poética de Aristóteles", aquela coisa de mímese e verossimilhança, a imitação da vida, o contar uma história que não existe, mas relacioná-la ao real.

Chega de conceito! Vamos para o efetivo e afetivo! Eu sou fã de Marvel porque em uma década, eles desenvolveram histórias de vários personagens, unindo esses heróis em alguns momentos, expandindo mais a trama cada vez que isso acontecia, entrelaçando roteiros, deixando pistas de um filme em outros filmes, e criando um universo criativo que prende a atenção e envolve quem acompanha o desenrolar das aventuras sempre bem produzidas. Além disso, os filmes da Marvel exploraram aquilo que o fã sempre quis ver: como o herói vive depois da missão, como ele se relaciona com o mundo, o que ele faz quando não está salvando o mundo. Isso estreita a relação do personagem com quem assiste, fica mais fácil relacionar a 'aventura da minha vida', com a vida dele.

Foi uma década genial! Uma cultura pop com conteúdo bom. Digo isso porque pode-se assistir as produções e enxergar valores: existe amizade, dignidade, busca pelo bem, pelo que é certo, pelo bem do outro. Mesmo explorando figuras tidas como 'anti-heróis', era possível acompanhar o desenvolvimento desses personagens meio perdidos e traumatizados, havia esperança de mudança de vida, de melhora, de progresso interior.

Posso dizer que ao longo dessa década, que se estendeu para o décimo primeiro ano da mega trajetória (2008-2019), eu vibrei, me diverti, sonhei, me envolvi com as histórias... Eu assisti vídeos de comentários e teorias sobre as histórias (pois é), vi o mesmo filme muitas vezes, conversei sobre os roteiros, opinei sobre o que achei bom e o que achei ruim (como se minha opinião contasse alguma coisa), e esperei, fui envolvida na expectativa... E é óbvio que não fui a única, afinal de contas o MCU (Marvel Cinematic Universe) ganhou bilhões de fãs (e de dinheiro) ao redor do mundo, e fez com que um filme de herói fosse indicado ao Oscar pela primeira vez na história! Muitas marcas e recordes. 

Mas chegou o final: "We're in the Endgame now". Vimos heróis virarem pó, num final dramático de "Guerra Infinita" e esperamos pelo filme "Ultimato" cheios de esperança que os heróis voltariam e salvariam o mundo. E mais uma vez a Marvel entregou a história magistralmente para seus fãs, muito "fan service" como dizem os youtubers de canais geek kkkk. Uma vitória que ecoou na vida porque não veio simplista: veio com sacrifício, com decisões difíceis, com superação, com cooperação, com uma missão não individualista, mas em que cada um fez sua parte.

Ultimato é criativo e emocionante. Ele explora toda a carga afetiva que criamos com os personagens durante os 11 anos de filmes, e desenvolve a trama de maneira tão interessante que você não sente as 3 horas de filme passarem, aliás, você não quer que acabe!

Destaque para a interação dos personagens com as cenas dos filmes anteriores quando eles voltam no tempo. A produção teve o cuidado de usar as mesmas cenas, em ângulos diferentes, que delicadeza! E o encontro de Tony Stark com o pai, em uma bela oportunidade de cura da história de vida. E o Capitão América levantando o Mjolnir, sempre soube que ele era digno kkkk! O sacrifício da Viúva Negra e do Homem de Ferro pelos outros. E tantos outros momentos!!!

Falando em acabar, acho que está na hora de parar de escrever. Nem falei tanto de Ultimato, mas acho que deu para entender que eu recomendo! Um filme de marcar época! Agora o futuro é incerto. Ultimato foi o fechamento de 11 anos que me cativaram. Não sei se vou concordar com a maneira que a Marvel vai trabalhar a partir de agora e com os aspectos que eles pretendem explorar... Não sei!

Só sei que vou continuar admirando as produções que fazem com que a vida encontre eco na jornada do herói. É bom esse desejo de viver a vida com uma missão, de não chegar à vitória sozinha, de me envolver com cada acerto e erro do caminho, de aprender durante o percurso, de lutar pelo bem, pelo que é digno, pelo bem do outro.

No final, o cristão tem um pouco (ou muito) do herói... A diferença é que nossos super poderes não são nossas habilidades por elas mesmas, nosso poder é a graça de Deus que nos move, e que santifica nossas habilidades em vista do bem de todos.

Avante!