quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Almoço solo

Era um feriado. Acordei sem preocupação com horário e pensei no que tinha planejado para o dia... Foi então que me dei conta que tinha um compromisso no início da tarde...

O cumprimento desse me obrigou a recusar convites de almoço em família, churrasco com amigos, passeio com uma amiga. Sabe-se que quando você tem horário e não tem um meio de transporte eficiente a disposição, não deve-se simplesmente esperar que as outras pessoas se ajustarão às suas necessidades...

Resultado... tive que almoçar sozinha. Não fiquei desanimada com o fato, ao contrário, o todo parecia bem agradável.
O dia estava lindo, e o céu, sempre amigo, me surpreendeu mais uma vez com sua beleza cativante. Óculos escuros - acessório átipico para mim - tênis, roupa confortável. Fui à um restaurante que gosto muito, afinal se eu ia almoçar sozinha, ia almoçar bem!

Pode-se dizer que o lugar estava movimentado, mas não lotado! Apesar de ser um de meus favoritos, lamentei não ter escolhido um lugar aberto para aproveitar o dia bonito. Indecisão para escolher o que comer, queria algo saudável. Indecisão sobre onde sentar... não havia mesa para um ou dois... foi aí que tudo começou...

Percebi que, automaticamente, procurei sentar em algum canto, numa mesa pequena, discreta... e por que? Talvez estivesse com receio do jugalmento das outras pessoas. Olhei ao redor, e vi que eu era a única que estava sozinha... sorri! Contrariando todos os sentimentos e convenções, sentei-me em uma mesa praticamente central, onde havia espaço para seis pessoas... sorri de novo!

Logo o garçom veio perguntar sobre o que eu iria beber, pedi e iniciei meu almoço. Foi um tanto decepcionante ver que a comida não estava tão boa quanto costumava ser... por que não fui a um lugar aberto? - pensei de novo.

Vi uma pessoa que conheço, olhei para cumprimentar e ela pareceu fingir não me ver... Esquisito, pensei! Foi então que percebi que as pessoas encaravam com certo estranhamento alguém almoçando sozinha em um feriado... sorri!

Talvez a pessoa que fingiu não me ver, temia que por dizer 'oi' a alguém almoçando sozinha, estaria no dever de me convidar para juntar-se a mesa dela... e certamente não havia espaço para mim, no almoço com a família que estava com ela. Além disso, eu estava bem confortável sozinha!

Comecei a prestar atenção nas pessoas ao redor. Havia esta família da qual falei, um jovem casal, casais com crianças, um casal de idosos, e outros... Pessoas diferentes, com relacionamentos diferentes, e ... frequência e modo de diálogo diferentes, isso mesmo! Sorri!

A família conversava de maneira entusiasmada, rindo, talvez lembrando de histórias antigas. O jovem casal, ria com os olhos, se aproximavam ao falar, querendo passar um sentimento de intimidade, talvez... As mesas com crianças eram as mais animadas, me diverti vendo o jeito espontâneo de cada uma delas, ri também da maneira com que seus pais os tentavam submeter às regras dos adultos... vã tentativa! O casal de idosos nutria um silêncio pacífico, daqueles que dizem tudo sem verbalizar nada, era como se não houvesse o que dizer, mesmo assim a companhia significava muito... sorri! Havia também um casal que preferiu sentar lado a lado, ao invés do habitual frente a frente... me perguntei, o por quê ... teriam brigado? Não havia muito diálogo na mesa também, mas o silêncio não era doce como o do casal de veteranos... desviei o olhar...

Vi mais duas pessoas que eu conhecia, e desejei ser invisível... engraçado! Não queria ver ninguém ou falar com ninguém, o trabalho de observação estava muito mais interessante. Fiz a refeição durar mais que necessário, afinal, alguém almoçando sozinha já chamava atenção, imagine se eu estivesse sozinha, com o prato vazio e ainda sentada, o que iriam pensar? Sorri!

Terminei meu almoço observando as relações humanas que me envolviam, evitando o olhar daqueles que me conheciam e agradecendo a Deus por estar bem! E por ter visto em simples mesas de um almoço semelhanças com meu passado, presente e possível futuro... sorri! E ainda dizem que só temos visão do que compõe nossa vida quando estamos para morrer...

Levantei-me, fui ao caixa, paguei e tirei minha capa de invisibilidade... Andei pela rua, sorrindo!

3 comentários:

  1. Isso tudo só pq não fui almoçar com vc?? kkkk
    Brincadeira.. ótima reflexão!
    Vc é fera pra escrever Tatiane...
    rs
    bjs

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  2. Ha! Vc teve utilidade nesse processo rs. Obrigada pela frequência aqui no blog, continue comentando =)

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  3. Opaaa, ainda não deixei meu comentario neh!
    Você é SHOW Tatiane!
    Me deu até vontade de passar por essa situação,nesse mundo de tanta correria, não paramos para ver os pequenos detalhes que nos cercam, mas que nos dizem muita coisa.
    Quero ler muito mais! =)

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