É comum perguntarem a ela porque tanta empolgação nessa
época do ano. Uma pergunta comum que não tem respostas tão comuns assim, pois
sempre que questionada, parece que algo se contorce dentro de si querendo
responder de uma forma que nunca consegue.
Aquele ano apresentava-se diferente dos outros, mas pensava
que não era de se espantar, afinal essa época é a mais criativa, empolgante de
todas. No entanto, havia algo realmente novo, e era importante. Era a primeira vez que
vivia esse período naquela casa, com aquelas pessoas, naquele trabalho, aí
começou a traçar a evidência de que era natural estar diferente. Porém a maior
diferença era dentro, no como estava se sentindo, no como estava vivendo e no
como gostaria de viver.
Não queria falar de interior agora, é muito complicado...
Exteriormente os enfeites lindos começaram a aparecer cedo, dois meses antes! Acabou
ganhando uma velha brincadeira com o irmão de ver quem é o primeiro a apontar
os enfeites a cada ano. Fazia tempo que não ganhava, começou por aí o
diferente. O irmão reclamou do quão adiantados estavam os enfeites, mas aceitou
a derrota, pronto para ganhar no próximo ano.
Mas os enfeites “precoces” geralmente não retratavam o
sentido que ela, que sua fé, atribuía àquela época. Tudo tinha muito mais
sentido do que o comércio explorava, é triste! Os enfeites que realmente
carregam a carga de sentido que procurava viver, esses tinham datas bem
definidas para começar a embelezar o mundo. Ela acolhia, mas lamentava dentro
de si o fato dos enfeites sem sentido terem muito mais tempo de visibilidade do que
aqueles que realmente importavam. Assim era, e assim sempre seria, e era lindo
assim.
Foto: Unsplash |
Mesmo que tentasse fugir, uma hora não dava mais, tinha que
admitir e tentar entender o que estava tão diferente dentro de si. Sim, muitas
mudanças na vida, mas era mais que isso. Percebeu que era a primeira vez que
vivia sua época preferida do ano com uma nova postura interior. Havia abraçado
uma realidade desafiante que pretendia viver para sempre. Estava em um caminho de
decisões sérias, de assumir promessas. A partir dessa conclusão começou a
perceber que sua alegria por celebrar aquela data não poderia mais ser por
simples gosto, tradição ou euforia, seu compromisso de amor com àqueles
festejos pediam um testemunho mais maduro e encarnado. Era isso? Por essa razão
a pergunta “Por que você gosta tanto do Natal?” começara a tomar uma sombra de
incômodo.
E a verdade é que começou a perguntar-se várias vezes a
mesma coisa, e mais do que questionamentos alheios, os seus próprios estavam
mais incisivos e frequentes: Por que eu gosto tanto do Natal?
Viveu sua época preferida a questionar-se, sem deixar que
olhos admirados de quem via sua alegria efusiva penetrassem sua confusão
interior. Acreditava que tudo na vida era regido por uma Providência que é
Divina, e a providência quis que nesse ano, ela experimentasse de situações e
sentimentos bem desagradáveis, e em cada um deles ela se via impulsionada a
cantar a vitória, porque afinal, era Natal, não iria se entregar a derrota ou
tristeza no Natal. Mas a providência insistiu em provar se aquela alegria era
autêntica ou uma alegria infantil. Por vezes fraquejou, por vezes
ficou decepcionada consigo, mas a Providência tem outros nomes, um deles é
Misericórdia, e assim sempre resgatava o sorriso, a expectativa feliz e a
empolgação. Estava chegando o Natal!
Ele chegou! Ela viveu e não foi como de costume mesmo. Até o fim teve que escolher viver a graça do tempo que tanto amava. Desejou que fosse mais fácil, mas entendeu que era como deveria ser para que aprendesse.
Durante toda essa jornada natalina foram muitas canções, sorrisos,
leituras, meditações, partilhas, momentos, luzes, lindos enfeites, que encheram
seus olhos e seu coração de um desejo de sentido muito grande. Até que
resolveu, depois de muito conversar com o dono do Natal, tentar mesmo responder porque
o amava tanto, porque era sua época preferida.
“Creio que deve ser por causa da atmosfera de beleza sem igual que encontro
nessa época. Tudo me remete ao conforto do carinho de braços puros, tudo me
remete à luz que não apaga e não encontra brilho que a ela se equipare.
Imagino ser por uma alegria terna, daquelas que
sentimos quando estamos em família. De um lugar aconchegante, seguro, onde reina
a paz daqueles que só querem desfrutar da presença uns dos outros, que
encontraram felicidade em partilhar a simplicidade do amor.
Ainda penso que tem relação com as melodias entoadas, as
canções tradicionais, os ritmos que embalam a época que parece cantar por si
mesma, que parece ter uma viva trilha sonora a embalar os momentos tão sublimes
que envolveram o evento naquela noite em que tudo mudou. Talvez naquela noite, os homens tenham se
aproveitado do contentamento dos anjos, e conseguido por alguns momentos ouvir
seus arranjos e acordes, copiando a divina canção que atravessou tempos e
terras para chegar aqui e agora.
Não sei, mas o clima é diferente. É misterioso e ao mesmo tempo certo. É intrigante
e ao mesmo tempo pacificador. É um Natal, um nascimento, mas um nascimento envolvido num amor
tão grande que faltam as palavras para comentar. É natural que o início de uma
vida seja celebrado, seja bem vindo, seja esperado, seja alegre... Mas o Natal
é a vida da Vida, é um absurdo de compaixão por mim. É a minha salvação que
nasceu. A minha esperança que nasceu.
O Natal é olhar para o Deus onipotente, criador, ali, feito
um bebê, pronto para se colocar em minhas mãos. É o cúmulo do abandono e da
confiança, deixar todo o seu poder para ter uma natureza como a minha e se
submeter ao risco da minha ruindade. É uma lição sobre o que realmente importa:
a simplicidade; o esforço de fazer com que o outro prove de algo belo e cheio de
amor; o cuidado de uma mãe e de um pai; o silêncio fecundo de quem fala com
Deus; o pouco que se torna tudo no mistério da prodigalidade divina; a
felicidade de confiar mesmo sem conhecer o futuro, porque a Providência, aquela
que desde o princípio orienta a vida, cuida de tudo”!
Por isso e muito mais do que pode descrever, ela ama o
Natal, porque ele é lindo, ele é feliz, ele é santo e é cheio de um mistério,
de um amor que não se esgota. Por isso é vão explicá-lo, melhor é vive-lo.
O Natal é Ele, é Jesus e Ele quis ser meu.
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