terça-feira, 3 de março de 2015

Sobre o que não deve ser exclusivo

Starry Night | Vincent Van Gogh | 1889

Nascia de uma dor estranha, de uma vontade de gritar. Mas, calma, não era nada negativo. Pelo menos achava que não. Pensava e sentia tanta coisa ao mesmo tempo, e o maior desejo era, que no meio daquela turbulência, encontrasse sentido e paz.


Ultimamente andava pensando muito no como nossas atitudes afetam e causam respostas do outro e do mundo. Pensava: "Como têm ainda coragem de não acreditar em mudança, se eu a vejo tanto e com tanta frequência"? Não era possível que isso fosse uma graça exclusiva! Não mesmo!

Pensava na beleza do emocionar-se e de emocionar-se com a beleza. A beleza que chega até a constranger... Beleza do puro, beleza do som, beleza do outro, beleza dos sentimentos, beleza das palavras, beleza das atitudes, beleza das lutas nobres, beleza da superação, beleza do simples, beleza do que inspira! Quanta beleza! Não enxergam e não percebem? Não pode ser graça exclusiva! Não mesmo! 

A dor estranha era como de algo que queria ir ao encontro. Ao encontro do que? Ao encontro de quem? Era uma certeza que queria explodir, que queria transbordar, que queria ter voz, que não cabia onde estava. Aquilo precisava fluir e dar vazão à todo o conteúdo que tinha, à toda a potência que vinha de algum outro lugar. Sabia que vinha de outro lugar, aceitava que não lhe pertencia. E que certamente não era graça exclusiva! Não mesmo!

Era algo que fazia vislumbrar em si uma pequenez imensa, com o perdão do paradoxo. Nunca tinha sido tão linda tamanha insignificância. Era um reconhecimento sobre si que tornava tudo até engraçado, que gerava uma liberdade extasiante. Nada! Pequenez e insignificância benditas! Será que era graça exclusiva? Não mesmo!

Perdia-se nas possibilidades. Um suave e profundo mergulho em si. Possibilidades para agora, para amanhã, para sempre. Meio avessa à insignificância era essa certeza da possibilidade; isso se explicava totalmente pela aceitação, de que era a dor estranha que dava força à tudo. Era ela que movia, que fazia enxergar o possível, o belo, o simples, o novo, o desafio, o tudo, o nada, o outro, todos. Tomara que não seja graça exclusiva! Não mesmo!

Isso fazia suspirar, dava uma sede, dava uma vontade de sorrir, de chorar, de ir à todos os lugares, de ficar onde mais amava, de ver mais mudança, de ver mais beleza, de se emocionar de novo, de aprender, de deixar que a dor estranha crescesse e fizesse o que bem entendesse. Restava o pensamento de que aquilo jamais deveria ser uma graça exclusiva! E isso gerava um compromisso de dividir... E como se divide uma dor estranha? Talvez da mesma forma que adquiriu-a? Pensava: "Mas eles têm medo da dor! Esse medo que os tornou fracos, cegos e prisioneiros. Quisera soubessem que a dor é só parte do processo, quisera ajudá-los a deixar que a dor estranha os tomasse, mudasse, fortalecesse, fizesse enxergar e libertasse". Compreendia o medo, porque também sentia. Compreendia a fraqueza, a cegueira e a prisão, porque tudo isso lhe era muito familiar. Porém a dor estranha superava tudo! O que fazer? 

Sabia, com certeza, que isso tudo não deve ser exclusivo! Não mesmo!


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